Zinda: O Oldboy(llywood)

Já imaginou a cena do corredor de Oldboy com uma trupe de indianos dançando com martelos?

Pois é exatamente o que você NÃO VAI ENCONTRAR em Zinda, feliz ou infelizmente. Como o título do post já deixou bem claro, Zinda é a versão Bollywoodiana do fantástico Oldboy. E, pasmem, o filme se sai MUITO MELHOR que o pífio remake americano!

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A história desta versão é mais fiel a original do que o remake dirigido por Spike Lee e estrelado por Josh Brolin. Balajit Roy é um desenvolvedor de softwares bem sucedido que vive em Bangkok e está comemorando seu primeiro ano de casado com sua bela esposa, Nisha, e ao lado de seu melhor amigo, Joy Fernandes. Tudo ia as mil maravilhas na vida de Balajit e só prometia melhorar quando Nisha descobre que está grávida. Ao correr para avisar ao seu marido das boas novas, descobre que Balajit sumiu misteriosamente.

A partir daqui a história é a mesma do Oldboy original, com Balajit preso em um quarto com uma TV,uma cama e uma mesa, comendo os mesmos bolinhos chineses e dando porrada nas paredes por 14 anos. A maior diferença nessa parte , alem do fato que no longa coreano se passam 15 e não 14 anos,  é que Oh Dae-su exercitou seu corpo durante o tempo em que esteve preso e entrou em forma para executar sua vingança, enquanto que Balajit entra pançudinho e sai pançudinho do mesmo jeito. Mas ficou tão porradeiro quanto…

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Em seu cárcere, Balajit tem uma alucinação onde vê sua mulher com um corte no pescoço antes de sua cabeça se separar do seu corpo para, em seguida, ver no noticiário que ela havia, de fato, sido assassinada e que Balajit era o principal suspeito. Após ser libertado, Balajit quer vingança e irá atrás do homem que tirou sua liberdade e sua esposa, e o fará revelar o por que antes de pagar com a vida.

O longa indiano tem algumas peculiaridades, como a fotografia toda em tons de azul, quase como se tivessem colocado um papel celofane na frente da lente da câmera. Suspeito eu que isso tenha sido um modo de dar um clima de tristeza ao longa, já que a cor azul, na língua inglesa, é sinônimo de tristeza, e os indianos adoram expressões em inglês. Outro fator que muita gente acostumada com as “fanfarronices” dos filmes indianos pode estranhar é a total falta de cenas musicais durante todo o longa. mas, vamos combinar né…dança e musica é a coisa que menos combina com Oldboy! Isso não quer dizer que não tenha música, ela está lá sim. Mas toca durante cenas sem diálogos e sempre tem uma letra que remetem ao sofrimento de Balajit.

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Balajit em seu mundo azul…

As cenas de luta merecem um baita destaque aqui. Se uma das coisas mais famosas de Bollywood são suas cenas de ação totalmente exageradas com dois tiozinhos gorduchos e bigodudos trocando tapas pelos ares em movimentos que parecem uma cruza de filmes de “arame -fu” dos anos 70 com filmes dos Trapalhões, aqui a coisa vai pelo lado totalmente oposto. O longa é bem pé no chão no que tange a porradaria, se calcando muito nas lutas mais viscerais e menos plásticas do longa original. Temos lutas contidas no que tange a realidade com golpes criveis e até bem violentos. A famosa cena do corredor também está presente, mas sem a visão lateral do original. A luta segue sem cortes aqui também, mas a câmera fica mais distante, aberta e seguindo Balajit. O único ponto fraco é a cena em que cravam a faca em suas costas, como acontece no original, só que aqui, por não ter cortes na cena, decidiram enfiar uma faca em CG vagabundo que acaba “dançando” nas costas do Balajit. Mas, apesar de tudo isso, ainda é uma cena melhor que a versão do longa americano.

Mas como nem tudo são flores, e Bollywood é famosa por suas “homenagens”  as vezes bem indevidas, o longa tem seus momentos de picaretagem, e tudo recai na trilha sonora. Durante o filme vamos ouvindo alguns temas instrumentais bem familiares, eu só consegui identificar dois mas não me surpreenderia se houvessem mais. Em uma das cenas toca o tema da luta do Neo no hall da mansão do Merovisian em Matrix Reloaded, e no confronto final com o vilão do filme toca o tema do Homem-Aranha do Danny Elfman. Bollywood nunca decepciona na cretinice!

Agora vamos ao final da trama, por isso segue o aviso:

ATENÇÃO: A partir daqui haverão spoilers. Caso no tenha visto o filme e planeje fazê-lo, aconselho que pare por aqui!

Como o final do longa original é PESADÍSSIMO e os filmes indianos tendem a se distanciar de temas muito sombrios (e Oldboy é o Batman dos filmes…), em Zinda temos uma mudança na plot twist , porém muito inteligente pois acaba sendo quase tão angustiante quanto o longa original.

Acontece que Balajit descobre que seu algoz é  Rohit Chopra, irmão de uma de suas colegas de classe, a jovem Reema Chopra, a qual acaba despertando o interesse da molecada toda da classe de Balajit, todos no auge de seus 14 anos e transformados em verdadeiros vulcões hormonais. O que Reema não sabe é que ela acaba virando objeto de aposta entre a turma de Balajit para ver quem iria “se deitar” primeiro com ela. Balajit, moleque malandro que era, arma um plano pra ganhar a aposta: dar uma calcinha de presente para Reema que, naturalmente, a recusaria mas, após tocar a peça intima, deixaria seu cheiro nela. E o plano dá certo, com Balajit se vangloriando de ter ganho a calcinha de Reema e ter se “deitado” com ela. A partir daí a vida da menina se torna um inferno, com todos os moleques tratando-a como se fosse uma qualquer e oferecendo dinheiro pelos seus “serviços”.

O plano maligno do jovem e cruel Balajit.

O plano maligno do jovem e inconsequente Balajit.

Na época, Rohit tinha apenas 8 anos e não estava entendendo por que os meninos mais velhos lhe entregavam dinheiro e o mandavam perguntar a sua irmã se ela faria o serviço por aquela quantia. É quando o feliz e inocente Rohit vai questionar sua irmã e não entende o por que ela ficar tão brava,além de não perceber que haviam colado um cartaz escrito “Reema se deita com qualquer um por 15 conto” nas costas do menino. Sem aguentar tamanha  humilhação, Reema queima o bilhete…e a ela mesmo! Isso mesmo, a garota pôs fogo em si mesma! E o pequeno Rohit assistiu a tudo.

E como Rohit faz para executar o ato final de sua vingança? Lembram que a mulher do Balajit estava grávida antes de ele desaparecer? Calma! Não acontece o mesmo que no filme original! Afinal, a menina só teria 14 anos. Sim, a filha de Balajit nasceu e foi criada por Rohit. E, ao fim de tudo, Rohit mostra um tipo de “leilão” que existe em Bangkok a Balajit, lá eles leiloam a virgindade de jovens garotas. E Rohit faz com que Balajit assista o leilão de sua filha. Não é como o original mas, ainda assim, bem pesado.

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Essa cara de tranquilidade de Balajit vai mudar drasticamente em poucos segundos…

Mas, palmas, palmas! Não priemos cânico! Uma das máximas mais comuns dos filmes de Bollywood é prezar pelo final feliz. E aqui não é diferente! Acontece que Jenny Singh Sarji, a táxista companheira de aventuras de Balajit durante todo o filme, acaba reconhecendo a imagem do local onde  a filha de Balajit estava  presa e ambos correm pra lá. Aí temos uma cena de invasão destoante do realismo do longa até agora, com Balajit matando todo mundo com uma katana a la Kill Bill. Ao final, desolado por não encontrar sua filha, Balajit recebe uma ligação de celular. Era sua filha dizendo que estava em sua velha casa e em segurança. Rohit não teve coragem de fazer mal a filha de Balajit por lembrar muito sua irmã (o mesmo que aconteceu com Enichi Yukishiro e Kaoru na fase final do mangá Rurouni Kenshin/ Samurai X), tanto que ele a batiza com o nome dela, Reema. Ambos se reencontram e temos um final feliz!

FIM DOS SPOILERS!

Enfim, Zinda é um remake competente, muito mais que o americano, apesar das picaretagens (além do lance das músicas, descobri agora a pouco que é um remake não oficial) e de um ou dois momentos de porradaria “a mais” pra deixar o filme com uma pegada mais de ação. A solução final do roteiro muda de modo inteligente o pesado final original, mas mantém o ar de angustia e desespero. Fui surpreendido!

Nota:8,0