Triplo X: Reativado- A nobre arte de não ser nem nobre e nem arte…

Vin Diesel fez de novo!

Se você é uma daquelas pessoas que adora os filmes de ação estrelados pelo Van Damme atualmente, que acha que Adam Sandler é um puta ator dramático por causa de Click, que acha que o Oscar é cego por ainda não ter dado um Oscar pelo conjunto da obra ao senhor Steven Seagal e acha que os responsáveis pelas vendas de seus DVDs nas gondolas de R$7,99 nas Americanas são idiotas por estarem vendendo verdadeiras obras de arte tão barato, com certeza você é fã de todo e qualquer filme do senhor Vin Diesel e acha a série Velozes e Furiosos a melhor franquia existente na atualidade. Não estou nem perguntando, estou AFIRMANDO!

Uma coisa é certa, depois de Velozes e Furiosos o nome “Vin Diesel” explodiu, muito mais até que o do falecido Paul Walker, que também estava na franquia, mas fez uns filmes fora dela bem longe de ter uma grande visibilidade. Com isso, Vin Diesel virou sinônimo de cinema de ação brucutu, nos moldes dos melhores dos anos 80/90, como Stallone e Schwarzenegger. No entanto, isso é uma baita pegadinha onde parece que o povo adora cair.Excetuando a franquia Velozes e Furiosos, TODOS os filmes do senhor Diesel carecem de uma coisa para encaixá-lo no lendário time dos brucutus: Ação.

Vin chora

Quando alguém tenta rebater esse minha afirmativa, eu sempre aponto um dos primeiros filmes pós-Velozes e Furiosos estrelado pelo carequinha, O Vingador, um “Justiceiro” que tem todo mesmo background do senhor Frank Castle: família assassinada por bandidos e uma cruzada por vingança. A diferença? No filme estrelado por Diesel o personagem apanha, apanha, apanha um pouco mais e, quando parece que não foi o suficiente, apanha mais ainda pra deixar de ser otário. Isso sem falar no ritmo ULTRA-LENTO do filme, o que não ajuda em nada. Creio que esse era o Vin Diesel tentando se provar como ator dramático.

Mas foi um ano antes de “O Vingador” e um ano depois de “Velozes e Furiosos” que Vin Diesel resolveu que era hora de emplacar outro filme de ação e lançou Triplo X. Na época lembro de ter visto o trailer e ter pensado “poxa, deve ser bacana” pois tinhas umas cenas de correria com esportes radicais. Achei que, quando visse o filme, ficaria embasbacado com fantásticas cenas de porradaria, tiros, explosões e afins. No final, o filme era só sobre um cara careca e tatuado com um gosto HORRENDO pra roupas correndo pra lá e pra cá enquanto dava mostras de que entendia de um par de esportes radicais enquanto era adorado pelas mulheres como se fosse um copo d’água em Caruaru. Achei bem “nhé”.

Quinze anos depois, Vin Diesel retorna ao papel do corredor poli-esportivo após recusar fazer uma sequencia em 2005, que acabou se tornando “Triplo X- Estado de Emergência” que trazia Ice Cube no lugar de Diesel. Aqui vale pontuar a fase “cu doce” do careca, onde ele se recusava a fazer sequencias, pois procurava sempre fazer algo “novo” e “artístico”, inclusive planejando adaptar a vida de Aníbal Barca para a telona numa época em que filmes épicos eram tão comuns quanto os filmes de super heróis hoje em dia (mas, quase sempre, ruins de doer.). Não é a toa que não o vemos em Mais Velozes e Mais Furiosos e em Tokyo Drift.

Até desenho animado ele conseguiu se tornar, mas nunca Ánibal Barca...

Até desenho animado ele conseguiu se tornar, mas nunca Aníbal Barca…

Mas, voltando ao filme título deste post, Triplo X: Reativado (Três Xis: Return of Xandi Gaiola) trás os poucos elementos bons do primeiro filme e os tornam ruins e trás todos os ruins e os tornam PIORES. Pra começar, vamos dar um resumo do FIAPO DE HISTÓRIA que é o roteiro: Algum maluco está derrubando satélites ao redor do mundo com um dispositivo chamado “Caixa de Pandora”. Quando a bosta bate na água e, consequentemente, a água bate na bunda, o governo dos EUA acha por bem chamar Xander Cage, que havia sido dado como morto em “Triplo X: Estado de Emergência”, de volta a ativa por alguma razão que não lembro mas sei que não faz sentido.

No entanto, Xander bate o pé e exige montar seu próprio time de personagens estereotipados pra combater o time de personagens estereotipados de Xiang (Donnie Yen), que parece ser o responsável pela quizumba toda. Daí se seguem perseguições em motos que parecem que saíram do Batman e Robin do Joel Schumacher, piadinhas bostas, situações imbecis, interpretações de dar vergonha e diálogos de dar algo além da vergonha…

Triplo X

Sério, “Triplo X: Reativado” tem momentos tão gratuitos e dispensáveis que se torna meio difícil seguir até o final. A começar pelo jeito em que as mulheres são retratadas, como se entrassem automaticamente em uma espécie de cio sempre que Xander Cage está no local. Isso é tão gratuito e desnecessário que me gerou um  incomodo gigante e me fez pensar “o que diabos esses roteiristas tem na cabeça?”. Digo, estamos em uma época onde as mulheres estão se levantando contra a objetificação com mais força que nunca e os caras me mandam o velho e estúpido esteriótipo de “bitches everywere”? Pelo amor de Deus, NÃO!

Aí, pra dar aquela disfarçada nessa patacoada, o sujeito me mete quatro mulheres “fortes” na história, sendo que duas delas tem uma tensão sexual gritante entre si, e não de um modo a favorecer o discurso de diversidade mas, sim, pra favorecer o discurso de “Olha, o Triplo X vai ganhar um ménage..”. Outra delas é a hacker, uma das peças fundamentais do time, mas é só ver o Xander Cage “inda house” que se torna automaticamente o fetiche da “nerdzinha safadinha” com direito a deixar explicitamente claro que quer sexo com o nosso “herói”, inclusive deixando bem na cara que curte sadomasoquismo. Parabéns a todos os envolvidos!  É nesse momento em que muitas das pessoas citadas no começo deste post, os fãs de Van Damme e Steven Seagal, vão dizer “ain, isso é invejinha por que o Vin Diesel é pegador” e…não, não é invejinha! Primeiro, o Vin Diesel não é o Xander Cage, por mais surpreendente que isso possa ser pra vocês e, segundo, esse “secto” de mulheres objetos me incomodou sim, e MUITO!

Parece que pra algumas pessoas, o conceito de "mulher forte" é unicamente esse aqui...

Parece que pra algumas pessoas, o conceito de “mulher forte” é, unicamente, esse aqui…

Mas saindo do meu rage pelo modo como as mulheres foram retratadas, vamos ao rage ao modo como o filme foi planejado! Em primeiro lugar, é preciso dizer uma coisa sobre Vin Diesel: Quem já viu alguma de suas transmissões ao vivo pelas redes sociais, sempre longas e falando aleatoriedades, tem bem uma noção de que o sujeito é…bem…pra usar termos brandos, um “crianção”. No entanto, na maioria esmagadora de seus filmes, ele é sempre o cara carrancudo, durão, cheio de pose e marra. Em Triplo X: Reativado ele chega perigosamente perto de ser o “crianção” que é na vida real, e isso deixa o personagem bem longe de toda a pose que conhecemos em outros de seus filmes, além de gerar uma voz em nossas mentes que fica repetindo “Meu Deus…o que é que esse sujeito tem na cabeça? Func, func…acho que já sei…”.

Além disso, Vin Diesel tenta trazer elementos de duas franquias para o universo Triplo X, sendo elas Missão: Impossível e Velozes e Furioso. De “M:I” temos a ideia de times de agentes sendo SEMPRE traídos pelas agências e, com isso, gerando uma disputa entre times. De Velozes e Furiosos, ele tenta puxar o lance da “família”, mas não consegue lá muito sucesso nisso, pois fica rápido demais e soa forçado demais (beijo, Esquadrão Suicida).

Pra completar, Vin Diesel tem dois PUTA ATORES LUTADORES DE ARTES MARCIAIS e os aproveita tanto quanto um cego aproveitaria um show de mímicos. Donnie Yen e Tony Jaa (que virou mascote de Vin Diesel desde sua participação em Velozes e Furiosos 7) tem suas habilidades sub-aproveitadas duranta as quase duas horas de filme. Yen, como líder do grupo rival ao de Diesel, ainda tem certo destaque e ganha duas cenas de luta que são SENSACIONAIS, enquanto que Jaa se limita a ficar imitando o Michael Jackson boa parte das vezes que aparece ( o ator ADORA fazer isso fora das câmeras também, o que mostra o quanto estava se divertido e não levando nada a sério o filme) e dar uns três ou quatro golpes de Muay Tahi durante todo seu pouco tempo em tela.

Tony Jaa e Donnie Yen parados enquanto sobrem uma escada rolante conseguem ser mais ágeis que o Vin Diesel...

Tony Jaa e Donnie Yen parados enquanto sobrem uma escada rolante conseguem ser mais ágeis que o Vin Diesel…

Eu realmente não entendo como Hollywood ainda não colocou Tony Jaa em um filme solo ou em um papel de destaque em um filme grande,mesmo não sendo o protagonista. O sujeito tinha tudo pra ser um novo nome dos filmes de artes marciais nos EUA, mas acabou relegado a papeis pequenos em filmes do Vin Diesel e a papeis secundários em filmes do Dolph Lundgren que, convenhamos, estão LONGE de serem super produções. O mesmo acontece com Donnie Yen em uma escala menor, já que o sujeito tem o nome bem estabelecido com seus filmes chineses desde os anos 80 e com a série Ip Man sendo um sucesso mundial e, ainda assim, não tem um grande filme made in USA, sendo relegado a coadjuvante de luxo em grandes produções, como  Rogue One.

O grande lance é que Donnie Yen FEDE a carisma, sem falar que o cara se sai sensacionalmente bem em cenas de ação e, muitas vezes, sem dublê, coisa advinda do cinema de ação chinês. A cena de luta dele no avião é vertiginosa e te faz lamentar por não ter mais momentos assim no filme. Aí voltamos a atenção ao protagonista da bagaça, e vemos um Vin Diesel que é pesado, lento (em uma cena ele dá um pulo em uma escada com a destreza de um jabuti amarrado a um tijolo), atrapalhado (em uma das cenas em que ele dá uma cotovelada giratória em um sujeito fica surpreendentemente claro que é um milagre ele conseguir andar e respirar ao mesmo tempo ) e cujo todas essas “desqualificações” se tornam claras pela direção do longa. Tem um momento muito rápido onde Diesel e Yen estão disputando uma corrida perto do final do filme em que uma mascara digital medonha é colocada no rosto de Diesel, em outros momentos as (poucas) lutas em que ele participa são pouco  inspiradas e tentam mostrá-lo como “uma força bruta” mas  fica mais com cara de “uma força biruta”. Digo que é culpa da direção por que esse combate entre brutamontes é muito bem executado nos Velozes e Furiosos onde ele luta com The Rock e Jason Statham e se saí muito melhor.

Pra fechar com chave de cocô, aqui vai um spoiler: o personagem do Ice Cube aparece nos momentos finais do filme. Eu não sei o que o sujeito tava fazendo mas bem que poderiam ter colocado ele desde o inicio ou a partir da metade do filme. Provavelmente o filme continuaria ruim de doer mas, ao menos, daria uma liga interessante entre os 3 filmes dessa fraca franquia.

Enfim, com diálogos vergonhosos, atores de ação sub-aproveitados, cenas horrendas (o “grind” no ônibus no começo do filme é NOJENTO de tão mal feito bem como o salto do avião no final) e um roteiro escrito por um fã de James Bond de 12 anos, Triplo X: Reativado é aquele tipo de filme que fãs do Vin Diesel vão amar, fãs de qualquer filme que tenha tiros, explosões e mulheres agindo de modo submisso vão adorar, mas as pessoas com o minimo de discernimento do que é um bom filme de ação descompromissado e um péssimo filme de ação mal conduzido vão detestar.

Nota: 6,0 (era pra ser 4,0, mas vou dar mais dois pontos pelas cenas de porrada do Donnie Yen. Por mim, podem fazer o próximo só com ele!).

Donnie Yen triplo x