Sociedade da Grã-Ordem Kavernista – Sessão das Dez Por Dr Manhattan

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Ih rapaaaaz, hoje eu vi meu ídolo da juventuuude”. “Essas coisas já não me assustam mais, as laranjas continuam verdes e…”. “Iihh cara, não compliiiica… eu disse que vi meu ídolo da juventuuude”… “É meu amigo… assim os discos voadores nunca irão pousar…”

Se você não entendeu porra do que este diálogo representa, saiba pois que “A Sociedade da Grã Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez” é um álbum setentêro que trata justamente disso: porra nenhuma. Quer dizer… mais ou menos.
01_Sessao_das_DezTriiiimmmmmm… triiiiimmmmmm
Alôôôôôôôôôôôôôôôôaaaaa?”
“Oi? É o Jorginho Maneiro..? É verdade que agora você é hippie?”
Podissshhhhcreeeeeeeeaaaaar
Dia desses um colega velha guarda no trabalho me passou um CD do Sérgio Sampaio para que eu promovesse a auscultação do mesmo. Eu sou retarda musical e não manjava nada do trabalho do cara. Bem, eu ouSSi o CD e curti bastante. Fui googlear a respeito do cantêro e acabei caindo num youtubo desse álbum de que trata este pÓstE. Caraaaalho… e que álbum foda!! Curti tanto que fui promover pesquisa a respeito e decidi inscrivinhar este pÓstE. Dá um ligs.

“não faça pouco do xaxado amigo / não seja enxerido, cabra sem pudor
será possível que em cidade grande / é só assanhamento, não se tem amor”

(Soul Tabaroa)

Sessão das Dez é um álbum de 1971 que conta com a participadura de Sérgio Sampaio, Edy Star, Miriam Batucada e ninguém mais ninguém menos que o grande Raul Seixas (que além de produtor, começa aí a soltar suas asinhas atuando também como cantor).

Da esquerda para a mão da punheta em sentido anti-anti-horário: Algures Edy Star, Sérgio Sampaio, Algures Toca Rauuulll Poorraaa, Miriam Batucada

Da esquerda para a mão da punheta em sentido anti-anti-horário: Algures Edy Star, Sérgio Sampaio, Algures Toca Rauuulll Poorraaa, Miriam Batucada

Trata-se de um trabalho bem zoeirístico dos autores que fizeram o mesmo num clima de descontração muito grande. Ao mesmo tempo, é uma espécie de válvula de escape principalmente por parte de Raul, que estava puto com sua vida como produtor na CBS vendendo “ilusões” comerciais (como o mesmo dizia) num cenário musical que julgava enfadonho (Jovem Guarda ninguém merece falo memo).

Formado, reformado, engomado /
Num sorriso fabricado / Pela escola da ilusão /
Tem jeito de perfeito / No defeito / Sem ter feito com proveito /
Aproveita a ocasião

(Dr. Pacheco)

O LP é bem satírico (e isso o que passou pela ditadura cuja mão da censura tremeu forte, imaginem o que foi barrado) e constitui uma coletânea de estilos musicais distintos (samba, xaxado, bolero, etc). Um verdadeiro “foda-se” às pretensões comerciais da indústria, tanto é que Raul levou uma senhora comida de rabo pelos seus superiores. O setor internacional da gravadora reenviou o disco com um bilhete escrito “What porra is this?” colado na capa. De fato, apesar de já ser o resultado do que foi peneirado pela censura, o álbum foi recolhido pela própria gravadora duas semanas depois de distribuí-lo, o que contribuiu para que o mesmo caísse no absoluto esquecimento e só fosse resgatado muitos anos depois, agora como algo cult.

“É preciso estar bem claro (se puder) / E eu não quero, não quero dizer nada (se houver)
eu queria estar por fora / mas você é tão legal”

(Eu não quero dizer nada)

 Mesmo com o descompromisso em passar qualquer mensagem – “Eles fizeram um disco para dizer sobre absolutamente nada” dizia uma reportagem da época – as músicas ainda assim trazem gravadas em suas letras as impressões pessoais dos artistas a respeito do momento em que viviam, sua saudade, o encanto com a cidade grande, angústias, etc.

“Moro aqui nesta cidade / Que é de São Sebastião /
Tem Maracanã domingo / Pagamento a prestação /
Sol e mar em Ipanema / Sei que você vai gostar /
Mas não era o que eu queria /
O que eu queria mesmo /Era me mandar”

(Êta vida)

 O sol daqui é pouco / O ar é quase nada / A rua não tem fim
Eu volto prá Bahia / Ou para Cachoeiro do Itapemirim

(Quero ir)

Apesar de desenhar muitos cenários da paisagem e cotidiano carioca, nenhum dos artistas era do RJ. Daí algumas das letras (principalmente de Sérgio Sampaio, que foi para o RJ com uma mão na frente e a outra atrás) transbordarem em alguns momentos muita saudade da terra natal e um sentimento de “se as coisas não derem certo aqui eu taco o foda-se e vou-me embora para casa”. Quem saiu muito cedo de casa sabe bem o que é isso.

“Eu vou pendurado na janela, / Vou mais pensando nela que esse sujo pelo chão
Eu vou descascando a minha vida, / Sujando a avenida com meu sangue de limão”

(Aos trancos e barrancos)

O álbum pelo seu “dadaísmo musical” pode ser enquadrado como algo bem underground para a época… underground pacaralho pois foi esnobado até por grande parte do cenário underground de então… outro fator que contribuiu para seu ostracismo. De qualquer forma, o álbum é muito atemporal e compensa ser ouSSido.

Para quem quiser ter uma meia horinha de descontração musical, segue aí abaixo o vídjosênho youtubístico do álbum.

Já neste link aqui, você pode assistir ao documentário “Dossiê Kavernista – A história perdida do álbum A Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10”  elaborado por Luiz de Magalhães como um TCC de sua faculdade de radialismo em 2012.

Por este link você relê o pÓstE do Godoka a respeito do Raul e o álbum Krig Há Bandolo. E por motivos de porque sim com este link você relê um dos pÓstEs míticos do Gariba.