Sobrevivente

Não, não estou falando sobre o clássico filme com o Schwarzenegger.

v

Por muito tempo eu apenas conhecia a fama de Chuck Palahniuk sem nunca ter lido um de seus livros. Tudo que eu ouvia falar era de como seus livros possuem um tom ácido e provocante, algo capaz de gerar tanto repulsa quanto fascínio em seus fieis leitores. A primeira vez que ouvi falar desse cara foi em uma artigo que analisava e traçava um paralelo entre seu mais famoso livro, Clube da Luta, e a aclamada adaptação cinematográfica, um de meus filmes favoritos.

chuck-palahniuk-shortlist

Olha aí o rostinho da criatura.

Como em breve estarei de volta em definitiva para minha bela cidade, onde tenho uma net decente mas não existe livraria com o mesmo adjetivo, resolvi juntar um dinheiro e ir aos poucos montando um pequeno acervo para tempos vindouros. Lógico que o nome de Palahniuk está na lista de aquisições, mas sempre bate aquele de comprar algo de alguém que você não conhece o trabalho. Então recorri a minha velha amiga internet para procurar alguma coisa desse abestado para fazer um test drive e encontrei o livro que está dando título ao post. Resultado: qualquer livro desse cara que eu encontrar desencadeará em mim a seguinte reação:

shut-up-and-take-my-money

 Sobrevivente conta a história de Tender Brenson, mas na verdade Tender Brenson não é um nome… ah, se eu contar vou me enrolar todo e contar partes do livro que não são legais de saber antes da hora. O fato é que Brenson está a algumas horas de morrer. Não de alguma doença fatal, ou por algum motivo heroico, mas sim por que ele sequestrou um avião. Pessoas sequestrando aviões? Tio Sam não fica feliz com histórias desse tipo…

O fato é que Brenson não tem muitos motivos para continuar vivendo. Sabe como é, a vida é meio chata quando se vive para trabalhar, você não possui mulher, nem filhos, nem amigos e você é o último cara vivo pertencente a uma seita religiosa que cometeu suicídio a cerca de 10 anos atrás.

Sabe como é, um momento você está pegando as flores que você rouba dos túmulos e montando o jardim dos seus patrões (de longe elas parecem até reais) e no outro, bum! Tchau pai, tchau mãe, tchau anciãos da igreja e aquela coisa toda.

Até que as coisas no momento parecem legais. Como não estariam? Não é todo dia que confundem o número de apoio a suicidas e publicam o seu número por engano. Não é todo dia que você pode se sentir com a vida de outra pessoa na suas mãos (outra pessoa desesperada e chorando sem parar, na maioria das vezes).

As coisas mudam um pouco de rumo quando surge alguém na vida de Brenson, uma mulher. O que é de se estranhar, já que as pessoas que saem da colônia do Credo para trabalhar no mundo exterior são desencorajadas a se relacionar com outras pessoas, principalmente no que se diz respeito ao sexo. Mas não pense nada de errado, a vida na colônia do Credo era comum, você se sentia feliz, acolhido. Ninguém era especial, mas você se sentia parte do grupo.

Pelo menos é que que ele se lembra. Ou acha que se lembra.

Palahniuk não tem medo de abordar temas polêmicos para a sociedade americana. Polêmicos para todos, de certa forma. Nada escapa, a visão de religião em relação ao sexo, a visão  da sociedade em relação ao sexo, o culto à imagem (que rende uma das passagens mais interessantes do livro), as relações interpessoais, aos gurus espirituais que surgem a cada esquina (quem não se lembra do Walter Mercado?). São críticas duras e saturadas de sarcasmo, mas nunca em tom doutrinário. A ideia é expor o ridículo que muitas vezes deixamos passar ou até mesmo aceitamos.

Um livro mais que recomendado. E tem à venda na Cultura, então parem de ficar lendo Naruto e Harry Potter e leiam algo decente! (E no processo nos deem uns trocados, mas isso não vem ao caso)

Sobre

Godoka
11/03/2014