Semana da Gastronomia – Fome de Poder

Uma história de antes das tortas vulcanicas entrarem no menu

No começo dos anos 50, Ray Kroc (Michael Keaton) vendia aparelhos multimixers, que fazem milkshake, para lanchonetes. Era apenas a ultima de suas várias tentativas de “chegar lá”.

Em suas andanças pelo interior dos EUA acabou encontrando em San Bernadino, Califórnia, uma lanchonete diferente das outras. Não haviam grupos de adolescentes infestando o lugar e sim uma fila com familias. E as refeições, hambúrgueres, fritas e refrigerantes, não levavam vários minutos para chegar ao cliente, tudo levava uns 30 segundos. Também não havia confusões com os pedidos nem pratos para serem recolhidos.

Minha nossa. 15 centavos o lanche, fritas e bebida.

Minha nossa. 15 centavos o lanche, fritas e bebida.

A lanchonete levava o nome dos proprietários, os irmãos Richard e Maurice. McDonald’s. Ele ficou curioso e depois de uma conversa e um jantar, os irmãos lhe mostraram o seu segredo. A produção do lanche era como uma linha de montagem, feita para ter eficiencia máxima, da fritura da carne, passando pela quantidade precisa de temperos até chegar ao cliente.

Ray descobre que os irmãos já tentaram expandir a lanchonete para outros locais, mas foi um fracasso, pois eles não podiam acompanhar as outras lojas e a qualidade tanto do serviço quanto do produto caia, com os outros gerentes até mesmo adicionando outros pratos no menu.

Nove itens no menu original. Quem imaginaria?

Nove itens no menu original. Quem imaginaria?

Isso não desanimou Ray, que insistiu com os irmãos que poderia fazer as coisas de forma diferente. Ele fez. E o resto, para usar um clichê adequado, é história.

Claro que ficaram coisas de fora, como o fato que Ray teve que comprar o nome McDonald’s de outra empresa, para qual os irmãos já haviam vendido os direitos, ou mesmo a presença do Ronald McDonald. Ou a luta dele contra o alcoolismo, embora dê pra notar que ele está sempre com um frasquinho.

O filme escolhe Ray para ser quase um vilão, mostrando como ele teria forçado as coisas de forma a assumir o controle da criação dos irmãos. Isso é progressivo no entanto, já que ele é mostrado em uma luz mais simpática no começo do filme.

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Mas as coisas não são tão simples. Ray, e isso o filme mostra, fica irritado com a tremenda lentidão dos irmãos sobre expandir a franquia. Compreensivel, já que eles tiveram experiencias ruins no passado. Mas essa lentidão continua mesmo depois que a formula de franqueamento foi aprimorada, pois eles não tinham a ambição de serem mais do que donos de uma lanchonete, e isso não era nem de longe o bastante para Ray. Ele usa depois táticas pouco éticas ao tratar com eles.

O que o filme mostra pouco é que ele tinha uma certa razão em perder a paciencia com os irmãos. Ele colocou todo o dinheiro, fazia todo o trabalho e logicamente, corria todo o risco. Tudo que eles tinham que fazer era esperar os cheques chegarem e ainda tinham todo o controle das decisões sobre a lanchonete em si (menus e coisas do tipo).

Apesar da salada, houveram melhorias.

Apesar da salada, houveram melhorias.

Vendo como as coisas eram, não é possivel deixar de notar algumas ironias, como Ray reclamando de alguem colocando alface no hamburguer ou expandindo loucamente o menu, o que sempre deu errado no McDonald’s posteriormente.

É um filme legal, com alguns fatos tendo que ser engolidos com um grão de sal, mas nada que engasgue na garganta.

Nesses anos todos a lanchonete passou por uma quantidade absurda de situações, desde ter o Big Mac transformado em indice economico, as velhas acusações do hamburguer com carne de minhoca, odio dos médicos, o agora comprovadamente falsificado documentário Super Size Me, visto como simbolo do imperialismo americano e mais uma enorme quantidade de estranhezas.

Láá na Sibéria foi possivel ouvir Lenin se revirando no sarcofago de vidro.

Láá na Sibéria foi possivel ouvir Lenin se revirando no sarcofago de vidro.

Já eu fiquei chocado mesmo foi com Nick Offerman sem seu glorioso bigode de Ron Swanson.

Heresia.

Pelo menos o troféu fica.

Pelo menos o troféu fica.