Review Surpreso- Batman: Cavaleiro Branco.

Caramba…

…eu estou MESMO surpreso! Mas, antes, deixa eu contextualizar quem está boiando.

Batman: Cavaleiro Branco é uma HQ com roteiro e arte de Sean Murphy, autor de Punk Rock Jesus, o qual resenhei AQUI , e que já trabalhou em mini-séries como Constantine, Vampiro Americano, O Despertar e Crononautas (que a Panini prometeu e, até agora, nada). Ah, e se tornou um de meus desenhistas favoritos DISPARADO! O traço do cara é animal e seu estilo é único e, mesmo sendo um artista relativamente novo no mundo dos quadrinhos (“relativamente” por que o cara já desenhou Espantalho Ano Um e Jovens Titãs anos atrás, mas com uma pegada um pouco diferente do seu traço atual), seu estilo já influenciou um monte de gente.

Um Sean Murphy MUITO diferente em Espantalho Ano Um, ainda com uma pegada mais cartunesca e simples.

Um Sean Murphy MUITO diferente em Espantalho Ano Um, ainda com uma pegada mais cartunesca e simples.

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Mas, voltando a Batman:Cavaleiro Branco, a principio a proposta da HQ de Sean Murphy não era algo totalmente novo e já foi pensado e executado trocentas vezes por um monte de gente: Um Batman vilão! Um dos exemplos que mais rapidamente surge na mente quando se cita essa proposta é a mini-série  Nemesis, de Mark Millar. Mas se na mini escrita por Millar o Nemesis seria um Batman com trejeitos de Coringa enfrentando um  comissário Gordon genérico, em Cavaleiro Branco, Murphy queria inverter os papéis de fato, fazendo do Coringa o herói de Gotham, o tal “Cavaleiro Branco”, e do Batman um vilão de fato. Ao saber disso pela primeira vez, achei que essa ideia teria a mesma pegada de Nemesis, com o Batman tendo sido o vilão desde sempre e o Coringa fazendo as vezes do Harvey Dent no filme Cavaleiro das Trevas do Nolan, o que corria o risco de acabar sendo uma história bem “nhé…”. Mas, como já deixei bem claro na introdução deste post, eu fui surpreendido…

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Não sei em quantas edições a série será dividida, mas creio que serão 5 ou 6. Nos EUA a edição 3 saiu no último dia 6, no entanto eu só li a primeira edição, e é sobre ela que falarei aqui. Tudo começa com o Batmóvel  entrando nos portões do Arkham e com o seu piloto entrando nas instalações e sendo recebido com todo o respeito pelos guardas. A surpresa vem quando descobrimos que quem está preso na cela é o Batman e o tal piloto do Batmóvel é o Coringa, agora sendo chamado pelo seu verdadeiro nome, Jack Napier.

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A história, então, retrocede um ano e descobrimos que não…o Batman nem sempre foi o vilão! Ele está em perseguição ao Coringa, o qual está fugindo num hoverboard (aparentemente tunado, pra conseguir correr do Batmóvel) no que parece ser só mais uma terça-feira em Gotham City. No entanto, o Batman não parece ser mais o mesmo, é o que constata Barbara Gordon, a Batgirl, sua atual parceira. Ele parece não ligar para a segurança dos civis e nem parece dar ouvidos a Batgirl ou mesmo ao Asa Noturna, o qual aconselha Barbara a abandonar a parceria com o morcegão justamente por isso. A perseguição se estende até uma fábrica de medicamentos e, lá dentro, o Coringa tem a tradicional conversa com o Batman sobre um não existir sem o outro e coisa e tal. E é aqui que a coisa começa a sair do tradicional…

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Sim, o Coringa já fez esse discurso um porrilhão de vezes, mas aqui ele está sendo total e completamente franco e joga umas verdades na cara do Batman que mexem com o morcegão que, por sua vez, rebate com outras que também mexem com o Coringa e…o fazem CHORAR! É como se estivéssemos vendo uma briga de casal e é exatamente assim que o Coringa enxerga e faz questão de expor em vários momentos da HQ.  Mas não entenda mal, quem conhece bem os personagens sabe que isso é mais complexo que um relacionamento amoroso ou algo assim. Mas é o paralelo mais simples pra se entender bem como o Coringa enxerga tudo isso.

Depois dessa discussão, o Batman espanca o Coringa e o faz engolir um frasco de comprimidos inteiro, sem que a Policia de Gotham, presente no local, o impeça. Isso faz com que o Coringa seja internado em estado grave e que a mídia caia matando em cima tanto do Batman quanto do D.P.G.C., já que toda a ação tinha sido filmada por uma misteriosa cinegrafista amadora. O tempo passa e o Coringa recebe alta do hospital, só que agora ele está mudado. Não mais sorri, não usa mais sua maquiagem, se tornou recluso e passa boa parte do tempo na biblioteca do Arkham. O motivo é revelado mais adiante: O Coringa, ou melhor, Jack Napier quer processar tanto o Batman quanto o D.P.G.C. que sempre o acobertou. E o ex-Príncipe Palhaço do Crime tem provas mais que suficientes para tal.

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E assim começa Batman: Cavaleiro Branco, com um roteiro que me surpreendeu por bater na mesma tecla “Batman e Coringa precisam um do outro pra existir” mas de um modo que te faz pensar se tudo é tão preto no branco assim. Sean Murphy já tinha feito um bom trabalho nos roteiros de Punk Rock Jesus, mas era um trabalho autoral, e isso me deixou receoso com Batman: Cavaleiro Branco, pois a possibilidade de ter liberdade em cima de um personagem tão importante é realmente baixa. Mas Murphy surpreende com um roteiro que prende, te faz ver o lado de um dos maiores vilões da DC e te faz questionar a validade das ações de um dos maiores heróis da editora. Outro ponto bacana da HQ é a mescla de elementos de várias mídias e encarnações do personagem. O Coringa, por exemplo, se chama Jack Napier, nome que o personagem ganhou no Batman de Tim Burton. E, sim, os acontecimentos de A Piada Mortal também se mesclam a esse universo com algumas diferenças. O Coringa não caiu num tanque de ácido, por exemplo, mas tem o mesmo passado como comediante fracassado, o que o leva a se tornar o Coringa, mas por uma questão mais voluntária, tanto que ele usa maquiagem, assim como o Coringa do universo do filmes do Nolan.

O Coringa conta seu passado e suas frustrações com Gotham, fatos que o levaram a ser o que é.

O Coringa conta seu passado e suas frustrações com Gotham, fatos que o levaram a ser o que é.

Ah, e por falar em referencias aos filmes, temos também referencias aos nada queridos filmes dirigidos por Joel Schumacher. No caso, temos o Asa Noturna como ex-parceiro do Batman e a Batgirl como sua nova parceira, o que soa como uma sequencia do HORRENDO Batman e Robin. Outra referencia a Batman e Robin está em um acontecimento que é o responsável por deixar o Batman tão furioso e indiferente no começo da história (ATENÇÃO: ALERTA DE SPOILER), acontece que Alfred esta morrendo e, para impedir que isso aconteça, Bruce está utilizando equipamentos do Mr. Freeze afim de retardar este fim e, se possível, encontrar uma cura. Se você bem lembra, Alfred também está morrendo em Batman e Robin e só se salva justamente graças a tecnologia desenvolvida por Mr. Freeze.

Ah, e por falar em referências e mesclas de universo, olha só esse Batmóvel PHODARALHAÇO criado pelo Sean Murphy. Ele mescla elementos do Batmóvel dos filmes do Tim Burton, do Tumbler dos filmes do Nolan e do Batmóvel do Batman do Snyder.

Ah, e por falar em referências e mesclas de universo, olha só esse Batmóvel PHODARALHAÇO criado pelo Sean Murphy. Ele mescla elementos do Batmóvel dos filmes do Tim Burton, do Tumbler dos filmes do Nolan e do Batmóvel do Batman do Snyder.

Por fim, esta foi apenas a primeira edição e já começou bem, em minha humilde opinião. Mas é apenas o inicio e a coisa ainda corre o risco de desandar mais adiante. Torço pra que não aconteça e para que Sean Murphy consiga fazer uma ótima história do inicio ao fim. Agora é esperar as demais edições…por que minha atenção ele já tem.

Nota: 10