Review Distraído: Homem-Aranha: Percepções.

Sabe aquela HQ com um baita de um mistério que te prende do inicio ao fim?

Pois é…esse NÃO É O CASO de Homem-Aranha: Percepções.

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Segundo volume da “Coleção Definitiva” da Salvat dedicada ao herói aracnídeo, “Homem-Aranha: Percepções” tem roteiro e arte de Todd McFarlane e se passa logo após Tormento, a qual resenhei AQUI! Acontece que, desde que ganhou a chance de desenhar o título do Aranha por tanto tempo ao lado do roteirista David Michelinie, Todd esperava uma oportunidade pra mostrar sua veia de escritor. Com o sucesso estrondoso que seu traço peculiar trouxe ao título do Aranha, logo a Marvel entregou um título pro sujeito pintar e bordar como bem entendesse, e assim nasceu Spider-Man número 1, que trazia a primeira parte de Tormento. Com uma trama incomum e que puxava mais para o lado do sobrenatural, algo um tanto incomum nas história do amigão da vizinhança, Tormento agradou o público da época. O que tanto os leitores quanto os editores da Marvel não sabiam, é que McFarlane não pretendia se desviar do tema do terror tão cedo…

O Kraven "Form Hell" de Tormento já mostrava o caminho que McFarlane pretendia seguir..

O Kraven “Form Hell” de Tormento já mostrava o caminho que McFarlane pretendia seguir..

O encadernado da Salvat traz as edições 6 à 12 da revista Spider-Man (as edições 1 à 5 são as referente a Tormento, como supracitado) e nos trazem uma história em duas partes co-estrelada pelo Motoqueiro Fantasma (com um novo alter ego, o piloto Danny Ketch) intitulada “Máscaras”e, dividida e cinco partes,  a tal “Percepções” que dá título ao encadernado e é co-estrelada pelo baixinho canadense mais amado dos quadrinhos, o Wolverine.

Em “Máscaras” temos a batida de tecla mais forte do McFarlane no terreno do sobrenatural, com um Duende Macabro totalmente demoníaco e fanático religioso que ganhou poderes sobrenaturais cujo a origem é vagamente explicada no encadernado pro ter acontecido em edições anteriores da época. O sujeito deixou de ser humano e agora ostenta um rosto demoníaco por sob a máscara além de ouvir vozes em sua cabeça. Sob a premissa de livrar o mundo dos impuros,o Duende Macabro promove uma matança louca e decide “evangelizar” um garotinho cujo a mãe ele matou. Para salvá-lo, entra em cena o Homem-Aranha e, em seguida, o Motoqueiro Fantasma.

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Já em “Percepções”, McFarlane nos joga em um trama de mistério e violência pesada. Na Columbia Britânica, localizada no Canadá, meninos estão desaparecendo misteriosamente. Até que um dia, uma repórter quase morre ao colidir com uma estranha e gigantesca criatura de pelagem branca, a qual carrega o corpo de um garoto em decomposição nos braços. A tal criatura é o Wendigo, e uma caçada a criatura é deflagrada nas florestas canadenses. Para cobrir o caso, Peter Parker é enviado junto a um repórter do Clarim para investigar tais acontecimentos mais a fundo. O que Peter não sabia é que não apenas a intervenção do Homem-Aranha seria necessária no caso, como a aparição do Wolverine daria novos rumos a trama.

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Olha, sendo curto e grosso…eu não sei o que o McFarlane tinha na cabeça pra achar que o Aranha caberia direitinho em histórias de terror. Sim, por que ambas as histórias ficam ANOS LUZ de distância do clima que se espera de um título do Homem-Aranha. Não me entenda mal, não estou dizendo que o Aranha não teve histórias sérias e com um clima mais pesado. Sim, ele já teve várias e ótimas histórias com um teor  mais sombrio, vide “A Última Caçada de Kraven”. Mas a mão do McFarlane pesa muito!

Se em “Tormento” o climão de terror urbano me agradou justamente por ser uma pseudo continuação/cópia descarada porém divertida de “A Última Caçada de Kraven”, em “Máscaras” temos uma história que, além de extremamente corrida, fica tão pesada que parece mais que é uma história meio Vertigo do Duende Macabro com o Aranha e o Motoqueiro Fantasma como coadjuvantes. E, nesse clima sombrio o Aranha parece totalmente deslocado da primeira até a última página!

Acreditem...se apagassem o Aranha do centro desta imagem, a coisa toda faria MUITO MAIS SENTIDO!

Acreditem…se apagassem o Aranha do centro desta imagem, a coisa toda faria MUITO MAIS SENTIDO!

Já em “Percepções”, fica aquela promessa de uma aventura cheia de ação e com uma corrida contra o tempo pra dar um ritmo vertiginoso a trama, já que o Aranha vai se unir ao Wolverine e só pode sair coisa boa daí, certo? ERRADO! A história é lenta, com muito “blá,blá,blá” com o Wolverine aparecendo literalmente apenas na última página da primeira parte e pouco fazendo nas edições seguintes. Quando eu digo “pouco” eu quero dizer em comparação com qualquer outra história de temática similar estrelada pelo personagem (e tem MUITAS, como “Sede de Sangue”, por exemplo), já que é Logan o responsável por resolver a quizumba toda da trama. O Aranha pouco faz, já que Peter acha melhor não se mostrar enquanto estiver fantasiado pois ficaria meio estranho explicar como o Aranha foi parar no Canadá e ficaria meio óbvio para o repórter do Clarim o que estava havendo ali assim que visse o Homem-Aranha por lá coincidentemente no mesmo dia em que o seu principal fotógrafo estava por aquelas bandas também. Faz sentido, mas limita muito as ações do herói na trama.

Última página da primeira edição, só pro Wolverine dar aquele "oi"...

Última página da primeira edição, só pro Wolverine dar aquele “oi”…

Isso sem falar na tal repórter que “atropela” o Wendigo no inicio da história que é usada como narradora dos acontecimentos. Mas o McFarlane parece esquecer dela em alguns momentos e a apaga totalmente de parte trama. Aí você se lembra e se pergunta “Ué…cadê a repórter que tava narrando a coisa toda?”, e ela volta. Aí você pensa “Ah, mas ela deve ser um fator decisivo no desfecho da coisa toda!” e…não! Ele só serve pra o Peter questionar a ética da imprensa, o que é bem válido, mas a personagem já tinha perdido meu interesse por ter sido tão deixada de lado pra eu me importar com isso.

Sendo bem sincero, ambas as histórias soam como uma série  de testes para o que viria a ser Spawn, mesmo que essa não fosse a intenção. Muitos elementos do que veríamos na HQ do Soldado do Inferno estão presentes aqui, inclusive com o rascunho facilmente identificável de um de seus vilões iniciais. Isso sem falar na crueza e violência, gráfica ou não, aqui representadas que soam muito mais familiares a história de Al Simmons. Em verdade, tal violência seria cabível nas histórias solo do Wolverine, mas soa totalmente incomoda quando lembramos que o personagem título da HQ é o Homem-Aranha. Sério, temos cenas onde corpos de crianças mutiladas são jogados na sua cara de um modo totalmente incomodo, isso sem falar nas descrições grotescas de alguns dos cadáveres que o McFarlane tem a gentileza de não mostrar! Em certa altura da leitura eu já estava pensando “Pelo amor de Deus, McFarlane…o que você tem contra uma história do Aranha enfrentando um super-vilão entre os prédio de Nova Iorque sem que o tal vilão tenha fixação pro assassinatos brutais  com direito a mutilação e carteirinha no Clubinho dos Satanistas?”!

Sério...você não espera ver o Wendigo segurando o cadáver mutilado de uma crianaça numa HQ do Aranha, espera?

Sério…você não espera ver o Wendigo segurando o cadáver mutilado de uma crianaça numa HQ do Aranha, espera?

Quanto a arte…bem…é Todd McFarlane! Ou você ama ou odeia! Eu confesso que gosto dos desenhos meio “fanzinescos” do McFarlane, ele era um cara bem inventivo pra sua época, com uma narrativa um tanto mais ousada que o convencional. No entanto, as vezes a ousadia dele se transformava em puro exagero e baguna, como o caso da narrativa em “persianas” que citei no post sobre “Tormento” (não leu ainda? O link tá lááá em cima, no comecinho do post), hora funcionando muito bem , hora se tornando um caos visual. No caso deste encadernado, como a história insistia em não me ganhar, eu prestei mais atenção ainda a arte. E McFarlane varia de painéis incrivelmente estilizados e bonitos, como o Aranha saltando no começo da história em meio a um monte de teias ( e se questionando por que ele soltava tanta teia desnecessariamente, o que eu achei hilário) ou na página em que vemos o Duende Macabro de costas tomando toda a página com sua capa em farrapos.

Mas está na hora da sessão de super-heroísmo...se eu não me enrolar nesse monte de teias primeiro. Aliás, por que eu disparo tanta teia assim?

“Mas está na hora da sessão de super-heroísmo…se eu não me enrolar nesse monte de teias primeiro. Aliás, por que eu disparo tanta teia assim?”

Em compensação, a anatomia oscila horrores aqui, indo do estilizado ao grotesco em um piscar de olhos. E se você já está pensando “ah, mas este é o estilo dele”, entenda…eu sei que é o estilo dele e gosto justamente por isso. Mas tem horas em que ele faz os personagens com braços mínimos com relação ao restante do corpo, principalmente quando a cena está em perspectiva isométrica. Dá a impressão que o McFarlane não sabe diferenciar noção de profundidade de descuido puro e simples.

No mais, é uma HQ que encontra justifica de aquisição em alguns fatores. O fato de você gostar do trabalho do Mcfarlane…ou o fato de você gostar do Aranha e quiser ter tudo dele independente da qualidade…ou o fato de querer completar essa coleção…ou o fato de querer montar o desenho da lombada que você poderia muito bem mandar imprimir e emoldurar (sairia MUITO MAIS BARATO, aliás. Pense nisso!)…ou o fato de que é barato! No meu caso se une o fato de gostar do Aranha do McFarlane unido ao fato de custar R$24,90 (poderia ser R$19,90 ainda, hein, Salvat…) e ser a segunda e última edição dessa coleção que irei adquirir pois não estou com meu ânus coçando pra tá pagando R$39,90 (e, brevemente, R$44,90) em um punhado de histórias que não valem isso tudo! Sério, gente…”Feroz”, “Tormento”, “Potestade”, “O Fator Mutante” QUE TEM DESENHOS DO LIEFELD…nenhuma dessas vale isso tudo! Sem falar que você encontra a maioria esmagadora delas pela metade do preço (e até menos) em sebos e nos Mercados Livres da vida em capa cartonada…vamos rever prioridades aí…

Nota: 4,0

PS: Agora, olhem pra essa imagem do Aranha do McFarlane e me digam…não parece que ele está com um caso sério de hemorroida braba?

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Segue música em homenagem a esta imagem: