Review Decepcionado: Castlevania, a série da Netflix!

“O que é a expectativa? Uma miserável pequena pilha de esperança de que algo vá ser bom!”Antes de começar, vou reproduzir aqui o texto que publiquei na Sala da Delicia (a página dos leitores do Superamiches no Facebook, caso você não saiba, desgraçada criatura):

Resumo dos bastidores da criação da série Castlevania da Netflix:

Netflix: Vamos fazer uma animação baseada no terceiro jogo da série, o “Drácula’s Curse”, e teremos muita ação, aventura, uma animação fenomenal e ritmo vertiginoso, culminando em um embate emblemático do Trevor Belmont contra o Drácula!

Warren Ellis (sim,ele é o roteirista): E se…ao invés disso…nós fizéssemos um episódio introdutório para o Drácula, mostrando seu lado mais humano e sua revolta contra a humanidade ao fim dele, seguido de 3 episódios chatos e com cara de episódio do seriado do Hércules dos anos 90, mostrando o Trevor Belmont enfrentando, não demônios, mas, ao invés disso…padres católicos?

Netflix: Tá…mas serão TREZE episódios, não quatro, né?

Produtor: Não! Serão quatro e tremendamente mal animados na maioria do tempo, sobretudo o episódio dois, o qual o Ellis está escrevendo entre cochilos e nossos estagiários estão tentando animar sem muito sucesso!

Netflix: Ah…pra mim, tudo bem!

E é isso! Castlevania chegou a Netflix no último dia 7 de julho seguindo a risca a cartilha “como pegar o material original e tirar TUDO QUE OS FÃS QUEREM VER para, ao fim, entregar uma obra totalmente disforme, desinteressante e com altas doses de decepção” já tão comum na industria do entretenimento.

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Antes de continuar descendo a lenha, um resumão da história: Drácula vivia enclausurado em seu castelo na Wallachia por motivos de…bem…SER O DRÁCULA, até que uma jovem bate sua porta. Intrigado pela coragem da bela donzela, resolve ver o que ela quer. A moça diz que busca os conhecimentos científicos que o conde Vlad Tepes tem e que, ela sabe, estão MUITO a frente do seu tempo. Com tais conhecimentos ela poderia ajudar a tratar os doentes de sua aldeia. Drácula pergunta o que ganharia em troca e recebe um baita puxão de orelha da jovem, que diz que vai ensiná-lo boas maneiras, pra começar, além de ensiná-lo a viver como homem novamente.

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Ambos se apaixonam e se casam. No entanto, um dia Drácula sai pra comprar pão na padaria da cidade vizinha e, ao voltar, descobre que sua esposa foi julgada pela inquisição como uma bruxa e queimada na fogueira. Tomado pelo ódio, Drácula avisa a todos os moradores da cidade de Targoviste que eles tem um ano pra ralar peito ou o bicho vai pegar…literalmente. Um ano depois a igreja está espalhando o discurso de que Drácula não é de nada, é bobo e cara de melão por não ter feito nada do que prometeu. Até que começa a chover sangue…e demônios! Aí começa uma carnificina ferrada e toda a Wallachia começa a afundar na merda.

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É então que conhecemos Trevor Belmont, último membro da família Belmont, a qual era conhecida como caçadora de monstros, demônios e afins, mas acabou excomungada pela igreja por demonstrar estranhos poderes (isso é mostrado no jogo, na série eles só dizem que a família Belmont é maligna, herege e que rouba esmola de ceguinho). Trevor não é o modelo de herói! Beberrão, desbocado e meio “nem aí”, acaba indo até a Targoviste pra descobrir que diabos está acontecendo por lá. É então que as histórias de Trevor e Drácula NÃO VÃO SE CRUZAR!

Esta imagem ilustra bem o que acontece na série: Trevor esbarra com essas duas tretas entre ele e o Drácula e fica por isso mesmo...

Esta imagem ilustra bem o que acontece na série: Trevor esbarra com essas duas tretas entre ele e o Drácula e fica por isso mesmo…

É isso mesmo que você leu! Trevor e Drácula não chegam nem a ficar no mesmo ambiente durante os arrastados quatro episódios da série! Olha, eu honestamente não sei o que os envolvidos nessa bagaça tinham na cabeça…eu vou reclamar por tópicos pra ficar mais fácil e organizado!

O ROTEIRO

Como já dito lááá em cima, o responsável pelo roteiro é o senhor Warren Ellis, velho conhecido principalmente dos leitores de quadrinhos. Autor de obras SENSACIONAIS como Planetary, The Authority, Frequência Global ,RED, entre tantas outras fases memoráveis na linha tradicional de super heróis, uma coisa que já esperamos de seus roteiros é uma trama que prenda e com momentos de ação de tirar o folego. O que Ellis nos entrega em Castlevania é TOTALMENTE OPOSTO A TUDO ISSO!

Essa cara de tédio do Ellis foi exatamente minha cara assistindo seu Castlevania...

Essa cara de tédio do Ellis foi exatamente minha cara assistindo seu Castlevania…

O primeiro episódio já me causou estranheza com essa lance do Drácula conhecendo a Elza do Frozen em uma cena meio “A Bela e a Fera”, mas aí eu pensei “é…deixa rolar” e a história até me ganhou. O primeiro episódio vai bem e termina com a juras de vingança do Drácula, mas creio que 20 minutos todos concentrados nessa parte em uma série de apenas 4 episódios foi um equivoco. Mas, tudo bem! o próximo episódio introduziria o herói e teríamos ação incessante tal qual os jogos, certo? ERRADO! O segundo episódio figura facilmente como O MAIS CHATO, TEDIOSO E ODIOSO dentre todos os quatro!

Seu ritmo é lento, tem uma cena em um bar GRANDE DEMAIS, uma luta MAL FEITA PRA CACETE (falarei mais disso adiante), e quando Trevor Belmont resolve invadir a cidade amaldiçoada você pensa “AGORA VAI”, mas…NÃO VAI! Ao invés de começar sua busca por Drácula e combater todos os zumbis, lobisomens, demônios e afins como é tradição em TODO CASTLEVANIA, Trevor tem brigas com GANGUES DE PADRES! Depois é jogado em uma porcaria de trama onde inventam os “Oradores”, um grupo de…monges…misticos…sei lá…cujo os católicos odeiam e querem matar por que acham que o fato deles orarem foi o responsável pela ira do Drácula, e não teve nada a ver com o fato do bispo da igreja ter ordenado a execução da esposa do vampirão.

O verdadeiro vilão da série: ESSE BISPO! FODA-SE O DRÁCULA! VAMOS NOS FOCAR NESSA TRAMA DA JANETE CLAIR PRA UMA MINI-SÉRIE DA GLOBO!

O verdadeiro vilão da série: ESSE BISPO! FODA-SE O DRÁCULA! VAMOS NOS FOCAR NESSA TRAMA DA JANETE CLAIR PRA UMA MINI-SÉRIE DA GLOBO!

Essa porra desse plot se arrasta por 3 dos 4 episódios e nos rende momentos em que ponderamos ir assistir a grama crescer pois, certamente, haveria mais ação lá. E quando a coisa promete entrar nos eixos e engrenar de verdade, ao fim do quarto episódio, com a revelação de um dos personagens mais amados de toda a franquia…A  PORRA DA TEMPORADA TERMINA!!! CACILDIS!!!

Eu, honestamente, não sei o que deu errado com o Ellis. Talvez ele não se saiba como lidar com outras mídias que não sejam quadrinhos e livros…sei lá. Mas este, nem de longe, é um roteiro reconhecivelmente do Ellis. É chato massante e perde tempos em coisas que não fazem lá muita diferença pra trama. Ele pegou a trama base do jogo Castlevania III: Dácula’s Curse, fez referencias a vários momentos chave dele…mas transformou toda a trama, que EXIGIA um ritmo frenético e vertiginoso, em algo CHATO. Pra você ter uma ideia, no terceiro episódio temos a parte em que ele liberta uma personagem (cujo nome esqueci) que estava transformada em pedra após matar um ciclope. Isso está no jogo, no entanto, lá, ela é uma caçadora de vampiros e não temos uma explicação prévia de quem ela é (que eu lembre, pelo menos). Na série ela é colocada como uma integrante dos Oradores e plot central na trama envolvendo-os, o que resulta em altas dose de porre…

Uma das pedras amarradas ao pé da série...

Uma das pedras amarradas ao pé da série…

O encontro com o tal personagem mais amado da franquia, que todo munda OBVIAMENTE sabe que é o Alucard (pelo amor de Deus…está no trailer), também acontece no terceiro jogo. No entanto, no clássico do Nintendinho, ele é bem diferente da sua famosa persona em Symphony of The Night, mas é compreensível terem deixado seu visual próximo ao do  famoso jogo de PS1, afinal é o que a esmagadora maioria dos fãs quer ver adaptado mais adiante.

Eis o Alucard em Castlevania III: Drácula's Curse!

Eis o Alucard em Castlevania III: Drácula’s Curse!

Seu visual seria assim!

Seu visual seria assim!

 ANIMAÇÃO E CHARACTER DESIGN

O estúdio responsável pela animação de Castlevania, ao contrário do que muita gente possa pensar, na é japonês. Apenas o visual teve inspiração nas animações japonesas, todo o trabalho ficou a cargo da Frederator Studios que, para quem possa estar achando familiar, é o responsável por…pasmem… Hora da Aventura!  E quem acompanha Hora da Aventura sabe que o estúdio trabalha muito bem. Então, o que deu errado em Castlevania?

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O fato é que a animação de Castlevania não só se inspirou no visual das animações japonesas como parece ter se inspirado também na qualidade atual de muitas delas. A animação é travada, esquisita e, em muitos momentos, apenas feia mesmo. Sobretudo no já famigerado segundo episódio. Lembra da tal cena de luta mal feita pra cacete que eu disse que ia citar mais adiante? Pois é..é chegado o momento! Além da aparente tentativa do Warren Ellis de construir um momento Quentin Tarantino, com um diálogo longo e interminável sobre um estuprador de cabras (sim, essa bosta de diálogo está na animação…), a cena mais chata de todo o segundo episódio culmina com uma luta PESSIMAMENTE animada, lenta, com frases proferidas entre socos e pontapés nos testículos, tal qual verdadeiros Cavaleiros do Zodíaco da manguaça, tudo embalado por uma musiquinha de elevador e que acaba te fazendo querer abandonar a série de imediato, principalmente se você for um expectador que preza muito pelo aspecto técnico de uma animação, como é o meu caso.

Trevor em seu momento cachaceiro do Sem Meias Palavras.

Trevor em seu momento cachaceiro do Sem Meias Palavras. “SE EU PUDESSE EU MATARRA MIL, QUE EU SÔ CABA HOMI!”

No terceiro episódio temos um salto GIGANTESCO na qualidade da animação dos combates na cena em que Trevor enfrenta um ciclope. Nessa cena a movimentação dos personagens é fluída e, traçando um paralelo a grosso modo, lembra muito as cenas de combate corpo a corpo feitas em Naruto Shippuden (você, assim como eu, pode não ter acompanhado a série do ninja gari mas, com toda certeza, já deve ter topado com um clipe de uma dessas lutas internet afora).

Aparentemente não apenas as cenas de luta parecem sofrer uma baita melhora. Os desenho dos personagens, a colorização e a movimentação de diálogos parece melhorar nesse terceiro episódio.No entanto, a trama continua arrastada e chata e o visual é tudo que parece melhorar. O quarto episódio também segue a qualidade do terceiro apresentando uma luta caprichada entre Trevor e Alucard. A movimentação é bonita, sobretudo nos pormenores de como Trevor manuseia o seu chicote para dar alguns golpes, não se atendo apenas a balança-lo, mas fazendo movimentos que explicam a trajetória dele de forma lógica, muito parecido com lutas envolvendo armas com correntes ou cordas em filmes de kung-fu.

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Quanto ao character design…foi buscada uma semelhança com as artes que eram utilizadas nas capas do jogos, com um Drácula de rosto afinado e com longos cabelos negros (que ficariam brancos com o passar da saga) e com um Trevor Belmont que segue a cartilha visual dos Belmont nos quadrinhos, apesar de ter recebido uma vestimenta que parece ter saído de Game of Thrones.

No entanto, os demais personagens tem feições e traços extremamente genéricos. Todos parecem ter saído de qualquer anime com ambientação medieval, de tão “mais do mesmo” que seus visuais preguiçosamente  demonstram. Faltou uma identidade visual em toda a produção, algo que realmente marcasse, que evocasse o espírito do Castlevania dos games, como ficou bem impresso no próprio Drácula, único personagem com traços realmente marcantes na animação. Aliás, a tal Oradora que acompanha o Trevor até o final da série, tem um character design tão diferente e destoante de TODO O RESTO dos demais, que parece ter sido roubada de…sei lá…um episódio de Samurai Champloo, por exemplo. Seus traços são, visivelmente, mais delicados e parecem deslocados em todo o contexto.

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PONTOS POSITIVOS

Aqui fica complicado… os pontos positivos da série são poucos, dando pra contar nos dedos de uma mão…e ainda sobram dedos. De positivo temos a violência que era de se esperar para uma série de terror, apesar da séria praticamente NÃO TER O CLIMA DE TERROR, mas fica palpável dentro do que se esperaria de ataques de hordas demoníacas, apesar de pesar a mão algumas vezes. Temos também as duas já citadas cenas de luta no episódio 3 e 4, a abertura que, estranhamente, só passa no primeiro episódio e…sei lá mais o que.  Já me puxei muito pra lembrar esses 3 pontos…

CONCLUSÃO

Castlevania é mais uma animação Netflix que me enche de expectativa e acaba me entregando um produto muito abaixo do esperado. O anterior foi Blame!, que entregou mais uma de suas animações em CG genérico, que não chegou a incomodar, mas trouxe um longa de 1:40hr em um ritmo lento incondizente com a obra original e se focando em uma das passagens mais desinteressantes do mangá homônimo. Castlevania faz o mesmo, só que trazendo uma animação sofrível, um visual genérico, trilha sonora apagada, e se focando em uma subtrama que NINGUÉM QUERIA VER e que, ao que parece, nem mesmo existe no jogo (posso estar enganado). E o pior…deixando um final não apenas aberto, mas com cara de “continua no próximo episódio”, dando um fechamento brusco, anti-climático  e imbecil a primeira temporada com seu ridículo número de 4 episódios. Eu começo a achar que algo deu errado nessa produção pra ela sair nesses moldes…mas a segunda temporada já foi confirmada, não estranhem se algum dos nomes envolvidos nessa não estiverem mais nela…

Drácula chorou lágimas de sangue após ver a série.

Drácula chorou lágimas de sangue após ver a série.

Enfim, decepção e nenhuma vontade de ver de novo foi tudo que essa primeira temporada de Castlevania deixou. Vamos ver se a segunda temporada melhora tudo isso. Se bem que eu duvido fortemente…

Nota: 4,0