[Resenha] Pé Pequeno – a mensagem que a gente precisa!

Sim, amiguinhos. Pé Pequeno, a nova animação da Warner, é um statement filosófico! É uma mensagem antirreligiosa da qual a gente precisa MUITO neste momento.

A ideia da primeira camada é divertida: o homem passou a vida toda dizendo que já viu um yeti (ou “pé grande”), mas e se os yetis fizessem o mesmo? Só que a história vai muito além.

Migo, o personagem principal, é um pé grande que vive no alto duma montanha no Himalaia. Ele vive numa aldeia, uma sociedade de pés grandes. Uma civilização primitiva que acredita em dogmas religiosos escritos em pedras, que explicam tudo que eles precisam saber sobre a criação do mundo e sobre como viver em sociedade. As pedras são usadas como um manto pelo líder religioso local, que as usa para manter aquela pequena sociedade funcionando e, quem as questiona, ou é tido como maluco, ou é banido da aldeia.

As pedras dizem que a montanha é o único mundo que existe, e é suspensa nas costas de mamutes gigantes, que precisam ser alimentados com gelo para não morrerem, fazendo com que a montanha caia no nada.

Qualquer semelhança com contos de fada tipo o Gênesis da Bíblia ou toda a baboseira cristã não é mera coincidência.

Os yetis acreditam que o Sol é, na verdade, um caracol gigante que precisa ser acordado com um gongo, para iluminar a aldeia. E o pai de Migo, responsável por tocar o gongo, vai passar a missão a ele. E é nesse momento que Migo acaba deixando os limites da aldeia e vê um avião em queda, que contém um humano. Sim, um “pé pequeno”.

Ao voltar para a aldeia e contar o que viu, ninguém acredita, pois as pedras dizem que isso não existe e as pedras NUNCA erram. Apenas os “malucos” locais, que questionam todos os dogmas, como a história dos mamutes, sabem que Migo realmente viu o que diz que viu.

Migo então é banido da aldeia e vai em busca do pé pequeno, para provar a todos que estava falando a verdade. E aí os dogmas escritos nas pedras começam a cair, como o sol nascendo de qualquer jeito, sem que se toque o gongo, forçando o líder religioso a criar novas pedras pra controlar a população.

Pé Pequeno é uma história bonita, sobre abraçar as diferenças, mas também é sobre as mentiras que nos contam para nos controlar, baseadas no medo. Porque civilizações primitivas criaram os deuses para explicar fenômenos da natureza para os quais não tinham conhecimento científico suficiente para entender, como um raio caindo, ou a maré. Civilizações modernas, por sua vez, continuaram usando os deuses e colocando regras em suas bocas para manipular o povo e controlar suas atitudes, “guiando o rebanho”.

Toda religião é uma farsa e líderes religiosos não passam de con artists, pilantras, picaretas. Seja por medo ou qual for sua motivação. O medo do que é diferente da gente nos faz tomar decisões imbecis na maioria das vezes, como apoiar gente que discrimina homossexuais, chama negros e índios de “vagabundos”, acha que “mulheres têm que ganhar menos porque engravidam”, ou é contra a descriminalização do aborto. Gente que se posiciona dessa maneira porque “é a vontade de deus”. Gente que acha que só existe um tipo de família: homem e mulher, porque “foi assim que deus projetou”.

E aí eu pergunto (e o filme também, de certa forma): quem é esse deus? Quando e onde tu viu ele dizendo que as coisas tinham que ser assim? Na Bíblia, que é um romance histórico barato escrito pelo homem? Que é a primeira versão do golpe do bilhete da loteria premiado da história? Quem te garante que foi teu deus que escreveu esse pasquim? Não faz mais sentido acreditar que lá na Idade Média algum malandro inventou essa história toda pra ficar cada vez mais rico e manter os pobres sempre pobres?

Deus é o relacionamento abusivo mais antigo do mundo. E nós somos a parte que apanha e continua achando que ele é bom pra nós. Está mais do que na hora da gente abandoná-lo, sair da montanha sustentada por mamutes e ver que tem todo um mundo lá fora. Ver que amor, felicidade, família têm várias formas – a forma que a gente quiser – e ninguém tem o direito de querer encaixar as nossas em um padrão. Nem mesmo “deus”.