[RESENHA] Casa do Medo (e o desserviço dos títulos em português)

Algumas semanas atrás, eu recebi o convite para a cabine de imprensa de um filme de terror intitulado A Casa do Medo.

Sem ter inicialmente lido nada sobre ele, aceitei pensando ser mais um desses filmecos de terror previsíveis e cheios de jump scares,no qual eu iria dar risadas e sair fazendo piada com a quantidade de clichês batidos que só assustam quem se impressiona com qualquer coisinha. Ledo engano.

Quando o filme começou, ele se revelou o oposto disso e, a cada minuto que passava, eu ia mais e mais para a ponta da cadeira. Sem sustinhos baratos (quer dizer, até tem alguns, mas são poucos e não estragam o filme), sem “dar o passo maior do que a perna”, apostando na simplicidade, e, apesar do infeliz título em português, A Casa do Medo (Incident in a Ghostland, no original) é um must see e eu vou explicar por quê.

Primeiro: é escrito e dirigido pelo Pascal Laugier, o diretor francês do aclamado cult Martyrs.

Segundo: ele entrega uma história simples e assustadora, que vai te deixar o filme todo em dúvida – pelo menos até o plot twist (sim, tem plot twist se é sobrenatural ou não.

Terceiro: o título em português (eu já mencionei isso, não?) é tão ruim, mas TÃO RUIM, que dizima toda e qualquer expectativa quanto ao filme, fazendo com que a surpresa seja grandiosa!

Incident in a Ghostland (eu não vou mais chamar de A Casa do Medo, me desculpem…) tem sua estreia oficial hoje (18/10/2018), mas já vem rodando festivais há um tempo e inclusive até já vazou na internet. Só que vale MUITO ser visto na telona. Ele conta a história de uma mãe, francesa que mora nos EUA, e duas filhas, americanas, provavelmente já nascidas lá. A mais nova, Beth, é fã de H.P. Lovecraft e sonha em ser escritora de horror. A mais velha, Vera, é uma adolescente típica, chata, autoenvolvida e que acha tudo “ridículo”. As três se mudam para uma casa que herdaram de uma falecida tia, em uma cidadezinha de filme de terror. A tal “casa” do título em português – que mostra que a distribuidora escolheu o caminho da obviedade em vez de valorizar a obra – é tudo que se espera de uma casa em filme de terror. Velha, barulhenta, cheia de tranqueiras antigas e muitas, muitas, muitas – eu já falei “muitas”? – bonecas de porcelana assustadoras.

Quando elas estão descarregando as malas no novo lar, a casa é invadida por dois psicopatas que as seguiram numa van de doces (diversos clichês do horror setentista e oitentista usados aqui com maestria). Eles entram na casa e começam a violentar as meninas, mas são interrompidos pela mãe das duas em um ato heroico.

Beth escapa, cresce e se torna uma autora de horror bem sucedida, cujo novo livro conta a história do evento. Vera não teve a mesma sorte. A irmã ficou perturbada pelo episódio e nunca se recuperou. Tudo corre bem na vida de Beth, até que recebe uma ligação da irmã pedindo para que volte à casa, pois algo estranho tornou a acontecer por lá.

E isso é tudo que eu posso entregar de Incident in a Ghostland sem estragar a história. Mas uma coisa eu te garanto: apesar de não ser tão gráfico quanto Martyrs, ele tem a dose certa de violência (uma das atrizes machucou o rosto de verdade nas filmagens) e tensão para te deixar preso junto com elas naquela casa pela duração completa do filme.

Foi realmente um dos melhores filmes de terror que eu vi este ano.