Por que ouvir ska? (Uma breve introdução)

ska3

“Ain Cgui, eu odeio post musical sobre uma banda/música/estilo que não acompanho… o que eu faço?”

Foda-se.

Fala, galera. Eu tinha esse projeto de post faz muito tempo… e só resolvi escrever agora. A coisa é bem simples e direta, ska é o meu estilo musical preferido e o que eu mais conheço (embora isso não queira dizer nada, já que eu nunca fui O pesquisador do assunto). Sendo assim, ninguém melhor que eu (MWAHAHAHAHA) pra contar um pouco da história e indicar umas paradinhas prucês. Nada muito extenso não, já que acima de tudo eu tenho muita preguiça.

Ska é um gênero musical jamaicano que surgiu por volta dos anos 50. Rezam as lendas que foi o ska que iniciou o reggae e o rock steady, mas a verdade é que os movimentos tem suas raízes e origens tão próximas que fica difícil de saber quem influenciou quem. É tipo aqueles teus melhores amigos que conviveram com você desde criança. Você já está tão acostumado com eles que não importa mais quem começou a conversar com que primeiro. É nessa mesma pegada.

Pois bem, embora tenha surgido nos anos 50, sua popularidade (a do gênero) começou a subir apenas por volta dos anos 60, com a grande popularização dos sound systems, que são rolês ~geralmente~ apertados em que a galera fica tudo junta e misturada, curtindo um som. A região nordeste do Brasil possui uma das cenas mais fortes do país, especialmente Pernambuco e Ceará. Também é bem tranquilo encontrar sound systems no centrão de SP.

Enfim, com os sound systems o ska caiu na graça do povo e consolidou seus maiores nomes, como os todo-poderosos Skatalites, Desmond Dekker, Toots & the Maytals e Bob Marley & the Wailers (que depois da morte de Bob, virou só The Wailers).

A sonoridade do ska (em geral) é bem singular e consiste, basicamente, contando com uma guitarra fazendo a base, uma linha de baixo trabalhada fudidamente, uma bateria dando um ritmo mais acelerado, teclados e OS METAIS. Aqui está a alma do estilo. A potência assustadora e polida do trombone misturada com o som rasgado do trompete e acompanhado pelo timbre aveludado dos saxofones (que não é da família dos metais, mas sim das madeiras) faz TODA a diferença. Arrupiô tudo aqui, cuzão. Se é loco!

Dando uma pausa no ska. Lembra quando eu disse que o texto não ia ser extenso? Eu menti, :D.

Bom, um dos maiores orgulhos da Jamaica permaneceu forte durante algum tempo, mas acabou tendo a sua popularidade em “queda”. Não sei se queda é o melhor termo para usar aqui, mas é o que o horário me permite usar.

No ano de 1962 a Jamaica conquistou sua independência e, com isso, um de seus maiores patrimônios culturais começou a engajar-se mais política e socialmente, incentivando as crianças e adolescentes a revolucionarem-se e levarem o ska pra frente. E é aí, senhoras e senhores, que somos introduzidos à Segunda Era do Estilo. A comunidade nunca morreu ou abandonou o gênero, porém não havia muito material significativo sendo produzido e/ou difundido entre a população.

Foi nesse cenário mais politizado, hostil e cheio de diferenças sociais e raciais que vimos The Specials brilhar. Embora seja um pouquinho longe, na Inglaterra, as mensagens eram basicamente as mesmas.

https://www.youtube.com/watch?v=0NHXhVvr8Xc

Como esses anos 70 foram cruéis com essa questão racial, com os nazi-fascistas e com os imigrantes, os Specials usaram a sua voz forte para tentar combater as coisas. O ska nunca antes foi tão político e relevante para o mundo.

Do ponto de vista sonoro, a segunda onda do ska manteve-se bastante fiel, com um ritmo um pouco mais acelerado e enérgico e uma linha de baixo e bateria mais agressivas. De resto tudo permanecia na mesma. Os metais e madeiras, em geral, apareciam menos nas músicas e sua importância triplicava por conta desse pequeno detalhe.

Um último ponto é que essa parte do movimento ficou meio que restrito à Europa (Inglaterra, mais precisamente). Outras bandas importantes e influentes que podem ser citadas são: Madness e Bad Manners. Ambas incríveis, mas o destaque vai pra última. O som deles é muito gostoso de escutar e é um pouco mais modernoso, acho que pelo fato de ser mais pegado, mais acelerado.

Foi, então, que nos meados dos anos 80 uma nova era do ska começou a ser desenhada, apesar de só cair no conhecimento da galera a partir dos anos 90. A, chamada, Terceira Onda do Ska possuía, inicialmente, o intuito de reviver o ska clássico e o mod, mas acabou se “distorcendo” e sofrendo uma leve mutação. Algo bastante imperceptível, tipo o fato de o juntarem com o punk e hardcore. Coisa leve.

Nem preciso mencionar que é aqui que as coisas ficam mais frenéticas do que nunca, né?! Nunca antes tivemos uma linha de baixo tão agressiva assim no estilo. A base de guitarra e bateria também aceleraram bastante e os metais estavam mais decisivos do que nunca.

https://www.youtube.com/watch?v=MaqSa8Jtjjw

Essa fase do ska é a que mais está durando e a que mais apresentou bandas incríveis e que continuam em plena atividade. Prepara um lanche aí que a lista é longa: Operation Ivy e Rancid com alguns detalhes extras que eu falarei num futuro Para Ouvir Antes de Morrer, The Mighty Mighty Bosstones (sem dúvida nenhuma o melhor vocal de ska que já escutei), Sublime, Big D and The Kids Table, Streetlight Manifesto (em minha humilde opinião a maior banda de ska em atividade), Reel Big Fish, Goldfinger, The Interrupters, No Doubt, Smash Mouth (em partes), Ska-P, The Holophonics, Sapo Banjo (banda brasileira que representa DEMAIS), entre outras. MUITAS OUTRAS. Um detalhe é que apesar dessas bandas serem da mesma fase, elas soam muito diferentes umas das outras.

Essa terceira fase do ska teve a maior força na América do Norte (especificamente nos Estados Unidos da América), por isso sua popularidade foi pras alturas, especialmente pelo conteúdo mais leve das letras (o que não representa, de jeito algum, que a parte politizada se perdeu de vez). Um som mais comercial representa muito mais pessoas conhecendo e consumindo o estilo. O que é incrível!

Os mais puristas insistem que essa terceira onda é ponto mais baixo do gênero, justificando com aquele clássico: “é só modinha”. Os mais puristas são uns babacas. Querem saber de uma coisa? Acho que isso é algo que funciona para qualquer banda ou coisa. Quem liga para esses rótulos? “Ain, a banda X é do estilo Y”. “Ain, o James Hetfield cortou o cabelo… ele não é mais troozão”. O importante não é nos divertirmos com aquilo que estamos ouvindo no momento? Tentar justificar para si mesmo que algo não é bom por qualquer motivo é só não ser honesto e pular uma parte muito importante do processo. No quesito musical, esse processo é o de conhecer coisas novas e/ou diferentes. E isso é importante pacaralho.

Aproveitando isso, o ska não é um estilo muito complexo ou com muita variação. Poucas mudanças existiram ao longos desses anos e, provavelmente, pouquíssimas mudanças irão ser vistas durante suas próximas décadas de vida. Falando sinceramente, isso me torna bastante pobre musicalmente, já que eu vivi ska por toda a minha vida. Só que eu gosto muito muito muito disso, então acho que está numa boa, não é?! Não que eu me importe muito com isso, :)

A minha aposta pruma quarta onda do ska é ouvir músicas mais experimentais, abusando de mais elementos eletrônicos e diferentosos. Gostaria de mais ênfase nos metais e nos teclados. Como se, por algum motivo, o ska atual resolvesse tomar um banho longo e demorado nas águas do estilo dos anos 60 e 70, porém usando os nossos perfumes de hoje para dar aquele toque especial.

E acho que é isso, meu povo. Muito obrigado por terem (ou não) lido isso. Esse é um post muito importante pra mim, principalmente porque estou falando sobre algo que me acompanhou durante uma longa etapa de minha vida. E continuará acompanhando.

Paz!