O Rei de Amarelo

Loucura define.

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No século XIX uma obra prima foi lançada. A peça teatral O Rei de Amarelo rapidamente se tonou um best seller, uma obra de tão grande beleza que todos aqueles que a lêem são seriamente afetados. O segundo ato da peça ficou conhecido por levar até as mentes mais fortes e preparadas à loucura. Não, o livro resenhado neste post não se trata desta obra tão fascinante como maldita, mas sim em uma série de contos sobre pessoas que acabam entrando em contato com ela.

Originalmente publicado em 1895 por Robert W Chambers, O Rei de Amarelo possuem histórias no estilo que se convencionou a ser chamado de terror cósmico, que possui como seu expoente máximo a figura de H.P. Lovecraft. O escritor estadunidense inclusive referenciou a obra de Chambers em um de seus contos (Um Sussurro Nas Trevas). Anos depois, com a ascensão do RPG, muito do Rei acabou sendo incorporado em jogos que utilizavam como enredo a mitologia de Ctulhu.

O livro pode ser dividido em duas partes, sendo a primeira contemplada com contos de ambientação mais fantástica, e a segunda parte com contos urbanos. Somente  os contos da primeira parte possuem ligação (pelo menos explícita) coma fantástica peça. O livro possui uma forte influência da estática decadentista, que era vigente na época. Os personagens e ambientação do livro buscam sempre que possível passar a ideia de libertinagem, depravação e corrupção dos valores morais tradicionais.

A própria cor amarela, cor das vestes do misterioso rei do livro, na época era associada à doença, loucura e tudo que é amoral. O principal publicação decadentista da época era o Livro Amarelo, um compilado de autores vitorianos, outro exemplo a ser citado é o uniforme dos manicômios da época, em cor ocre. Até nos contos onde a peça amaldiçoada não faz parte, de alguma forma a cor amarela se faz presente.

Grande parte dos contos também possuem como protagonistas estudantes americanos de arte que residem em Paris. Acredita-se que essa característica em comum seja um traço autobiográfico de Chambers, que quando jovem se mudou dos Estados Unidos para a Cidade Luz para estudar artes, tendo inclusive um de seus quadros expostos em um salão de Paris.

Não fica claro na maioria dos textos em qual momento se passa a história em questão, mas em alguns contos certos nomes e eventos levam a crer que eles se passam no mesmo mundo, mas em linhas temporais diferentes. Mesmo quando isso não ocorre, a repetição de alguns locais ou nomes de coadjuvantes sugere que outras histórias podem se passar no mesmo momento, porém em dimensões diferentes. Tentar traçar uma ordem cronológica exata é pedir pra usar uma camisa de força.

Apesar da data de lançamento, a escrita de Chambers é de fácil assimilação, tendo como ponto forte a ambientação do leitor através de descrições breves e precisas. Infelizmente a carreira como escritor de fantasia e terror dele não foi muito prolífica, e ele optou por seguir carreira como autor de romances descartáveis, porém rentáveis. É como se Stephen King resolvesse escrever aqueles romances Sabrina após ter lançado Sombras  da Noite, uma pena.

A versão brasileira de o Rei de Amarelo foi lançada pela editora Intrínseca. A edição é bem trabalhada, possui uma breve introdução contextualizando o momento artístico da época em que o livro foi lançado e uma breve biografia do autor. No final de cada conto temos uma série de notas e comentários para melhor entendimento do que foi lido. A capa do livro é em papel cartão, e possui uma ilustração simples, porém bela. O peço de capa é 29,90 golpes, mas atualmente as principais livraria online estão vendendo por 14,90. Comprei o livro na black friday por inacreditáveis nove reais, mas mesmo no  preço atual é uma excelente aquisição.

Godoka
26/12/2016