Antes que você comece a procurar, não…não existe parte 1 deste post. Calma,você vai entender.

Ultimate X-Men chegou ao mercado americano em 2001 trazendo uma nova proposta, criar um novo universo Marvel para abraçar os novos fãs que surgiram a partir de X-Men: O Filme, de 2000, do diretor Bryan Singer, sem precisar conhecer anos e anos de cronologia. Como todos bem sabem, Singer trouxe toda a mitologia dos X-Men para um viés mais real, sem roupas coloridas e histórias cartunescas, ao invés disso o tom era de ficção cientifica pé no chão, e Ultimate X-Men seguiu exatamente esse molde.

As histórias tinham um tom mais cinematográfico e menos espalhafatosas que a famosa fase Claremont/Byrne, por exemplo, e esse tom mais “realista” por vezes rendia histórias um tanto chocantes para os fãs mais velhos, acostumados com seus heróis sendo…bem..heroicos! Ultimate X-Men muitas vezes mostrava seus protagonistas saindo da velha fórmula maniqueístas e transitando sombriamente pela área cinzenta em prol da segurança da raça mutante como um todo. E é exatamente uma dessas caminhadas nos recôncavos mais cinzentos que se encontra “Novos Mutantes- Parte 2”, publicada originalmente em Ultimate X-Men 41 e, no Brasil, publicado em Marvel Millennium Homem-Aranha 36.

Fonte: Guia dos Quadrinhos

Escrita por Brian Michael Bendis com a mais que questionável arte de David Finch, a história de “Novos Mutantes- Parte 2” se passa logo após uma série de acontecimentos da pesada que até Deus duvida. Wolverine havia deixado Ciclope pra morrer em uma missão apenas pra tirá-lo do caminho e ficar com Jean Grey, no entanto Ciclope sobrevive e, após (mais) um embate homérico com Magneto, Ciclope expõe as safadezas de Wolverine (que sempre foi meio mau caráter no universo ultimate) ao resto do grupo e o expulsa da equipe, deixando de brinde todo o ódio do grupo contra o não-tão baixinho canadense (Ultimate X-Men tem como referencia maior os filmes, lembra? Logo, Wolverine= Hugh Jackman de 1,88m).

Wolverine é “gentilmente” convidado a se retirar…

Depois  disso temos uma aventura solo do Wolverine em 6 partes ao lado do Homem-Aranha com a participação do Demolidor, culminando com a volta do Logan a equipe dos X- Men, mas com todos os narizes torcidos para seu lado, claro. E é depois dessa historieta que começa a micro-saga “Novos Mutantes”, mostrando a busca de Xavier por, bem…novos mutantes que tenham acabado de descobrir seus poderes e estejam sem a orientação correta, podendo se tornar um risco para a população e para si mesmos.

“Novos Mutantes-Parte 2” começa mostrando um adolescente comum acordando ao som de “We Built This City” do Starship, e se preparando para mais um dia comum de aulas. No entanto, o garoto começa a estranhar a falta de sua mãe em casa e encontra apenas suas roupas caídas no chão da cozinha. O garoto acha estranho mas acaba saindo assim mesmo e deixa um bilhete para a mãe na porta da geladeira. As ruas parecem vazias demais e ele começa a estranhar, até que, finalmente, encontra o ônibus da escola e se enche de alivio ao perceber que não tinha pirado, o mundo ainda estava devidamente habitado. Sua namorada o recepciona na porta do ônibus e, no meio de uma conversa comum, ela para e, com olhar aterrorizado, olha por sobre o ombro dele. Assustado com a reação, o garoto olha para trás e vê que todos ao seu redor estão evaporando em meio a uma enorme agonia. É quando ele sente as mãos de sua namorada agarrando-lhe a camisa, ao voltar seus olhos para ela, percebe que o mesmo está acontecendo com a garota que, antes de morrer, diz “É você”.

O garoto, então, se refugia em uma caverna. O que fazer daqui pra frente? Como viver uma vida normal se sua simples presença é capaz de matar todos ao seu redor? É quando um dos X-Men aparece para, aparentemente, resgatar o garoto. Sim, aparentemente. Pois o X-Men é Wolverine, o único capaz de se aproximar do garoto devido ao seu fator de cura, e sua missão não é bem de resgate…

Brian Michael Bendis é um cara conhecido por ser extremamente textual, quase um Chris Claremont moderno mas sem as redundâncias imbecis. Suas histórias costumam ter extensos diálogos e se apoiarem mais no drama e nos conflitos psicológicos do que na ação propriamente dita. Leia seu Demolidor e vai perceber que se houverem três grandes cenas de batalha contra bandidos é muito. Em Homem-Aranha Ultimate ele fazia o mesmo e manteve o estilo assim que assumiu Ultimate X-Men após a saída de Mark Millar do título. No entanto, em “Novos Mutantes- Parte 2”, Bendis usa poucos diálogos e deixa as entrelinhas falarem mais alto, como em qualquer conversa delicada que qualquer um de nós já teve na vida.

Logan é o principal responsável por criar um  conjunto de entrelinhas que te fazem respeitá-lo, apesar de todo o mau-caratismo que ele havia demonstrado nas últimas histórias. Pra começar, Logan sente uma enorme empatia pelo garoto, mas sendo um cara com poucos modos, usa das coisas que conhece para deixar o ambiente de uma conversa extremamente desagradável o mais afável possível. Para tanto ele organiza um pequeno e sútil rito de passagem para o garoto. Como? Pelo simples fato de dividir uma cerveja com o menino e não ter rodeios em suas palavras. Em nenhum momento Logan tenta amenizar o que está por vir, ele apenas mostra que é necessário e o garoto aceita. Ambos estão sofrendo com isso, o garoto por perder toda uma vida pela frente e Logan por ser o responsável por tirar isso dele. Não há outra maneira e ambos sabem. E, com uma simples cerveja e a aceitação do sacrifício pelo bem maior, não só de toda a humanidade como da raça mutante, que seria caçada a todo custo com a repercussão de um mutante desse tipo, Logan faz o que deve ser feito não há um garoto…mas a um homem.

Os desenhos do David Finch, como já é de conhecimento público, estão longe de serem uma maravilha (e eu confesso que na época, eu adorava…), mas sua narrativa nesta história é bastante competente e casa com toda a proposta do roteiro do Bendis. Apesar dos rostos constantemente disformes, os sentimentos de dor do garoto e do pesar do Logan ficam bem evidentes.

“Novos Mutantes-Parte 2” não é um clássico eternamente lembrado como “O Garoto que Colecionava Homem-Aranha”, por exemplo, mas tenho certeza que quem acompanhou Ultimate X-Men lembra dessa história como uma das mais marcantes e trágicas da equipe. Como todos sambemos, hoje Ultimate X-men não mais existe mas já havia perdido o fio da meada pouco depois dessa fase, com o Wolverine morrendo e sendo substituído por um Dawson’s Creek com garras e com a morte lenta e dolorosa de toda linha Ultimate graças as ideias IMBECIS do senhor Jeph Loeb.

A PIOR equipe X-Men do universo Ultimate!

Para nossa sorte, Miles Morales, uma das melhores coisas que surgiram daí, sobreviveu a esse fim, e pra nosso azar, parece que o Dawson’s Creek com garras vai parar no universo 616. Enfim, independente de tudo isso, eu vou repetir meu mantra (e de muito leitor cansado dessa merda atual): No meio de um mar de mega-sagas, mega-eventos e mega-reboots, o que realmente faz falta são pequenas e boas histórias como essa.

E tenho dito.

PS: EITA, PERA, PERA, PERA, PERA!!! Enquanto fazia este post cabei descobrindo que existe um fan-film exatamente dessa história! Tem atuações medonhas, efeitos especiais sofriveis e um Wolverine de sobrepeso…mas foi feito com o coração! Confere: