Minha humilde opinião sobre o mercado de Mangás

Em outras palavras, “como as editoras poderia fazer melhor pra serem a NOVA SAMPA de amanhã”.

Durante a semana passada fui surpreendido por um ótimo post do Blog da Mara, onde em linhas gerais, ela relata alguns métodos conservadores que as editoras adotam para publicar mangás aqui no Brasil. Tal foi minha surpresa quando na sexta-feira, vi um vídeo no canal do Ursão Lindo VideoQuest comentando o referido post e ainda discorrendo mais um pouco sobre o tema:

 

Bom, concordo com a Mara, discordo em grande parte com o Leo Kitsune, principalmente sobre o fato da qualidade do papel e de que uma edição mais caprichada não faz diferença para a leitura. Mesmo assim o vídeo me despertou o senso crítico sobre o tema e resolvi elencar alguns pontos negativos que o mercado nacional adota, discorrer sobre algumas ideias e sobre o que REALMENTE precisa mudar por aqui. Então TOCA A VINEITA AI:

 

1) – DIVULGAÇÃO DE MATERIAL

Um dos piores problemas das editoras! Às portas de 2018 e elas utilizam seus sites como se estivessem no início dos anos 2000. Sério, é incrível como os lançamentos, cancelamentos e checklists do mês são desatualizados ou sequer informados de forma correta. Quantas vezes não fui conferir o “checklist do mês” pra constatar que muita coisa não estava no catálogo, mas já estava na banca, ou o contrário, tinha coisa no site que demorou meses para aparecer na banca.

Fora isso, as editoras utilizam uma publicidade dispersa, na qual você tem que verificar em inúmeros lugares pra confirmar a informação. Tem coisa divulgada em rede social mas que passa longe do site por exemplo.

PORRA!! É tão difícil assim montar um cronograma do que será lançado no mês e publicar tudo no site de uma vez só, com os títulos, capas e quinzena/semana de lançamento?

Depois que tá tudo no site, é só jogar os links nas redes sociais, não é difícil. Difícil é você ir na banca e sempre tomar aquela “surpresa”, com cancelamento, lançamento ou atraso na publicação.

2) – PUBLICAÇÃO CONSERVADORA

Normalmente as editoras seguem a seguinte fórmula para lançar um mangá por aqui: esperam o título em questão virar anime, depois esperam ele fazer um certo sucesso, esse sucesso refletir aqui, para só então trazer o mangá pra cá.  Exemplos não faltam, praticamente 80% (talvez até mais) do material publicado segue essa fórmula, mas pra citar alguns exemplos mais recentes temos One Punch Man, Boku no Hero Academia, Ataque dos Titãs e certamente em 2018 teremos o anúncio de Black Clover, já que o anime acabou de sair e segue bem o padrão Shonen “arroz com feijão”.

A impressão que dá é que as editoras não confiam no mercado nacional e se utilizam desse conservadorismo para “lançar títulos que já pegaram” devido o forte apelo popular. Assim, vamos torcer pra sair uma versão em anime de YAKUSOKU NO NEVERLAND, DUNGEON MESHI, ou KUSO MISO TECHNIQUE, para que anos depois possamos ver suas versões naquele papel jornal bacana. Porque fora isso, duvido muito que essas histórias simplesmente apareçam por aqui.

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Além de muito bom, é incrível saber que conseguiram publicar isso para um publico infantil

Na minha opinião, poderia haver uma pesquisa de conteúdo, seja por meio do ranking de mais vendidos, seja de forma mais crua, lendo as Shonens Jumps da vida e selecionando o que acharem melhor/mais interessante.

3) – PUBLICAÇÃO MENSAL

Item correlacionado ao anterior. Além do título ter que fazer um sucesso da porra pra ser lançado aqui, ele ainda precisa ter volumes suficientes para um lançamento mensal. DRAGON BALL SUPER tá no vol 4, YAKUSOKU NO NEVERLAND tá no vol. 5, eles vendem muito no Japão, mas as editoras só vão lançar os volumes por aqui quando eles estiverem concluídos ou lá pelo número 30.

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Nuss olha esse Vegeta SSJ GOD, tá marcando heim Panini, já devia ter começado a publicar

Mano! Custa fazer lançamentos trimestrais ou semestrais, pra galera ir comprando e acompanhando quase que simultaneamente com a gringa? Akira é anual (a JBC diz que é semestral, mas convenhamos), Slam Dunk é bimestral, já tá na hora de rolar uns lançamentos mais espaçados, do que simplesmente esperar o título fazer volume pra lançar de forma convencional anos depois.

4) – FALTA DE REIMPRESSÃO DE GRANDES MANGÁS

Isso particularmente me incomoda bastante, a editora adquire os direitos de publicação de um determinado mangá no Brasil, só que o mangá é gigante, com mais de 50/70 volumes e com uma publicação mensal/bimestral que se estende por anos. Exemplos? Vários! Naruto, Bleach, One Piece, Dragon Ball, Hunter x Hunter, etc.

O que acontece é o seguinte… a publicação se inicia, seguindo normalmente, só que lá pelo volume 30 por exemplo, o título já esta há uns anos sendo publicado e passa-se a ter 2 “problemas”. 1º o leitor que pegou a série do início pode ter perdido alguns volumes e está maluco pra completar sua coleção; 2º o leitor novato não vai pegar a publicação com o bonde andando, porque não vai entender bosta nenhuma.

Hunter x Hunter é o melhor exemplo disso! Por conta dos inúmeros hiatos a publicação encalhou no vol. 33, há previsão de que o volume 34 seja lançado no início de 2018. Agora, já que o título deu aquela esfriada (obrigado Togashi), porque não republicar do início, já que o vol. 1 foi lançado em 2008 – SIM 10 ANOS ATRÁS !! Muito melhor do que seguir dessa forma até o final, esperar passar anos e só depois fazer aquela enquete safada sobre o que querem republicar!

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O mesmo serve para One Piece, aproveita que tá no vol. 72, e relança do vol. 1 ao 30, espera um tempo e relança do 31 ao 60 e por ai vai.,Isso iria atrair novos leitores e manter o título “vivo” no mercado por mais tempo. Basicamente isso serve pra qualquer mangá grande que já esta a uns bons anos sendo publicado por aqui. É uma auto renovação que certamente traria ganhos para a editora e para os leitores. Lá fora isso acontece sem problemas.

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Claro que alguns lojistas especializados que represam os volumes nº 1 de qualquer mangá, para vender por R$ 199,99 vão ficar putos, mas quem se importa com esses trastes?

5) – QUALIDADE DO PAPEL

Nada contra o papel jornal, mas por favor, não economizem no que já é “humilde”, um papel mais fino e quase transparente além de ser uma bosta, da a impressão que daqui a um tempo vai se desfazer nas mãos. Se compro o mangá na versão impressa, é porque quero pegar ele na estante DAQUI A ALGUM TEMPO E ELE ESTAR LÁ, SEM SE DESFAZER, RASGAR OU DESCOLAR DA CAPA!!

6) – MAIS EDIÇÕES DEFINITIVAS/DATABOOKS/ MATERIAIS ADICIONAIS

Na primeira metade dos anos 2000 a Conrad lançou a edição definitiva de Dragon Ball, com extras e páginas coloridas. Lançou ainda Cavaleiros do Zodíaco episódio G, que apesar de não ser uma edição definitiva, tinha um bom acabamento, orelhas e páginas coloridas. Fora Nausicaä do Vale do Vento, que também era muito caprichada e por sinal, melhor que a versão original.

Uma década depois, o que tivemos de mangás sendo publicados dessa forma? A caríssima E.D de CDZ, que vende porque os fãs de CDZ compram qualquer coisa do mestre Kurumada (mas duvido que comprem fora do “eixo” CDZ, tipo Fuma no Kojiro), Akira e a E.D “adaptada” de Slam Dunk (ótima por sinal).

Mesmo assim, com Dragon Ball, Yu Yu Hakusho,Rurouni Kenshin e outros tantos medalhões já publicados por aqui e que sempre vendem bem, é triste ver que esse material mais completo não é lançado. O mesmo vale para os databooks, que sempre trazem um conteúdo adicional bacana como entrevistas, explicações e outras curiosidades.

Rurouni Kenshin - KanZenBan

Sem dúvidas, as edições definitivas mais lindas que já vi, foda é a questão moral sobre o Autor.

Fica a idéia de lançar esse material mais caprichado por aqui, desde que seja a um preço acessível como Slam Dunk vendido à R$ 17,90 ou como foi com  Dragon Ball que em 2005 tinha o preço de capa de R$ 19,90.

Lançar Akira na casa dos 60/70 conto é até viável, porque são só 6 volumes e a periodicidade é anual (já mencionei que a JBC continua dizendo que é semestral?), então da pra pegar aquela promoção ao longo do ano e pagar uns 30 conto. O problema é estimular o mercado e o consumidor, com a ideia de que esse tipo de edição tem que ser cara e justificar por exemplo o que fazem com CDZ, que tem 22 volumes e é vendida a R$ 64,90 cada.

Dá sim pra lançar um material de qualidade, com bom acabamento, página colorida a um preço acessível na faixa de até uns 25 reais.

7) – CONTEÚDO ONLINE

A briga entre editoras e scans é antiga. O scan parte da ilegalidade, pega material de fora, traduz e disponibiliza de graça (na maioria dos casos). O lado negativo é que ele acaba afastando o comprador da versão impressa. O lado positivo é que ele te apresenta uma infinidade de títulos, dos quais você lê, se apega, vira fã e acaba comprando quando é lançada a versão impressa.

Lá fora, algumas editoras já lançam a versão digital por um preço mais em conta que o da versão impressa, mas por aqui há ainda um certo conservadorismo no mercado. E aqui eu me incluo nessa!

Afinal, porque vou pagar por algo que me é disponibilizado de graça, da mesma forma (digital)? Se você estimula o consumidor a utilizar a versão digital, porque ele vai pagar, se tem exatamente a mesma de graça?

Pra mim, as editoras deveriam fornecer de forma gratuita e  online em seus sites, os 3 ou 5 primeiros capítulos de todos os seus títulos disponíveis. Ai o leitor em dúvida se compra ou não o título, por ter medo de ser ruim, dá uma lida pra ver se compensa. Pensa você, acessando o site, lendo um monte de primeiros capítulos e aqueles que mais te empolgaram você compra! Estimula a venda impressa, da um drible no scan e ainda ganha em acessos e publicidade com o próprio site.

Muito melhor do que comprar aquele mangazinho plastificado de capa maneira e se decepcionar ao abrir…

8) – APOSTA NOS AUTORES NACIONAIS

Se as editoras não apostam nem no mercado japonês, o que dizer então do mercado nacional? Eu respondo, ele é praticamente desconsiderado!

Não fossem as editoras pequenas, para fomentar os artistas nacionais, ele certamente não existiria, ou seria limitado a alguma página da web. E há bons títulos por ai como QUACK PATADAS VOADORAS.

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É engraçado, tem um climão de aventura, as girias brasileiras estão perfeitas e Colombo, o pato já vale a leitura

É foda olhar pra multinacional Panini ou para a gigante JBC e ver que elas dão de ombros para autores nacionais e suas obras. Elas bem que poderiam realizar concursos, como é feito no japão, para todo ano publicar os 5 melhores títulos enviados. Ai é chamar os Autores, sentar com editores e traçar um plano curto e simples para a publicação, com no máximo uns 10 volumes.

Pior é que o gênero shonen (porrada, superação e piadinha), casa muito bem com o jeito “malemolente dos paranauê” da cultura brasileira.

CONCLUSÃO

Particularmente, o que sinto das editoras de mangás é o mesmo que sinto do mercado brasileiro em geral, é conservador, pouco criativo, desleixado em muitos pontos e na maioria das vezes diminui a qualidade do produto e ainda sim, aumenta o preço.

Tivemos melhorias ao longo dos anos, mas muita coisa pode e deve melhorar. Principalmente com relação a publicação de mais mangás de uma forma diferente, além de um olhar mais carinhoso e profundo sobre os autores nacionais. Tem muita coisa boa ai é só procurar e dar aquela oportunidade.

Em suma, as grandes editoras precisam ser mais arrojadas, igual a NOVA SAMPA, a maior editora de mangás do país. Afinal ela publica qualquer título, sem se importar com a qualidade (aliás, sem se importar com coisa alguma), sempre inova nas traduções, ora publicando páginas em japonês, ora em português, ora de forma bilingue, além de desenvolver aquela formula caseira de papel jornal com cheiro de delícia.

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