Marvel e DC + Aventura: Uma ótima ideia muito mal aproveitada!

Quadrinhos estão caros, isto é um fato! Fato que sempre faço questão de frisar!

Mas não só os encadernados estão absurdamente caros como também as mensais, que ganharam cifras na capa e perderam páginas em seus miolos. Bons tempos em que uma mensal de 100 páginas custava R$6,00…hoje, com 48 à 52 páginas custam quase R$10,00. Mas foi em 2011, justamente durante esses “bons tempos” que a Panini, a qual completava seus 50 anos, teve uma ótima ideia: Publicar histórias fechadas no formato americano, com as exatas 25 páginas que as edições americanas e pelo mísero preço de R$1,99! E assim nasceram a Marvel+ Avetura e DC + Aventura.

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A ideia era atrair novos leitores tanto pelo preço quanto pelo conteúdo, sempre procurando trazer material de qualidade e, por que não, clássicos de personagens chavões de cada editora sem a necessidade de um grande conhecimento cronológico prévio. Uma ótima ideia, diga-se de passagem, e que começou bem para a Marvel mas não muito bem para a DC…

Se você, assim como eu, acompanhou a cuta carreira de ambas as revistas, sabe que as edições da Marvel+ Aventura duraram 10 edições contra apenas 6 da DC+ Aventuras. Do meu ponto de vista, o problema da DC+ Aventura foi a seleção de histórias escolhidas pelos editores. Vamos fazer uma pequena análise das primeiras edições de ambas:

Marvel+ Aventura 01

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A edição trazia uma história curta estrelada pelo baixinho canadense mais amado da confraria mutante, o senhor Wolverine. Isso já seria motivo suficiente pra atrair  os “leitores civis” dada a popularidade que o personagem alcançou graças a sua personificação no cinema na pele de Hugh Jackman. No entanto, a publicação não visava apenas os novos leitores, lembrem-se. E, portanto, a história escolhida foi “Animal Ferido”, escrita por Chris Claremont e desenhada pelo fodaralhaço Barry Windsor Smith. Como bônus, a história marcava a primeira aparição de Lady Lethal tentando matar um desmemoriado e animalesco Wolverine que acaba sendo ajudado pela Chispinha, integrante do Quarteto Futuro. Uma história simples, rápida, vertiginosa e com uma arte de encher os olhos que agradou aos leitores mais velhacos (mesmo que já tivessem lido a história que acabou sendo integrada ao encadernado “Arma X” de 2003)  e, certamente, aguçou a curiosidade dos “civis” que só conheciam a Lady Lethal “bonitona” dos cinemas. Ponto a favor.

DC+ Aventura 01

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E se a Marvel+ Aventura começou com um dos personagens mais populares da editora, a DC não poderia ficar atrás, certo? Para fazer frente a distinta “concorrência” (lembrem-se que é tudo Panini por aqui, ou seja, são os mesmos bolsos que enchem, não importa a editora), o personagem escolhido não poderia ser outro se não um dos carros chefes da DC: Batman! Mas, ao contrário da edição da Marvel+ Aventura, aqui seriam publicadas não apenas uma história…mas três! As primeiras 6 páginas trazem nada mais, nada menos que a origem do Cavaleiro das Trevas apresentada em Detective Comics 27 com roteiro de Bill Finger e arte de Bob Kane. Uma história simples mas muito bacana pois mostrava que o Batman não só era mais sombrio em seus primórdios como também tava nem aí se um bandido morresse, muito diferente do Batman de anos depois (mas muito familiar aos Batmans do cinema…).

Batman defecado e locomovendo pro terrível fim do meliante.

Batman defecado e locomovendo pro terrível fim do meliante.

O grande problema aqui é a segunda história. Como pareciam estar na vibe de mostrar origens, a segunda história trazia a primeira aparição do Capuz Vermelho. Para os fãs velhacos, uma história bacana, já que mostrava o embrião do clássico “A Piada Mortal”, do senhor Alan Moore, já que temos o Coringa contando sua origem após tentar roubar uma fábrica de baralhos vestido como o Capuz Vermelho e tentar fugir nadando por um rio de químicos. Sim, para os leitores velhacos foi ótimo descobrir que a ideia do Moore surgira daí. No entanto, para os leitores novatos, uma HQ com a arte totalmente datada, pouco dinâmica e FEIA (sim,Bob Kane, Sheldon Moldoff e George Roussos, desenhistas dessa edição, não eram nenhum Jack Kirby) unidas a um roteiro bobinho e arrastado não teria nenhum atrativo. Ah, e antes que alguém venha com “mas tem que entender o conceito da época em que foi lançada”, isso só funciona para nós, leitores de longa data (as vezes nem conosco, pra ser bem honesto), mas dificilmente essa explicação cola com um leitor novato. Ponto contra.

E antes que alguém ache que estou sendo “partidarista” aqui, quero deixar bem claro que não tem nada disso em meu julgamento. Eu não queria que a Marvel+ Aventura se saísse melhor que a DC+ Aventura. Eu queria que AMBAS trouxessem boas histórias e perdurassem, tanto que fiquei extremamente feliz com a segunda edição da DC+ Aventura enquanto que a segunda edição da Marvel+Aventura não me empolgou. A segunda edição da publicação da DC trazia “apenas” uma história escrita por Alan Moore mostrando os momentos finais de Abin Sur antes de cair na Terra mortalmente ferido e entregar o anel do Lanterna Verde para Hal Jordan. Psicodelia e um visual sombrio nos traços de Kevin O’Neil fazem dessas 12 paginetas um deleite. Deleite esse que só se completa quando, à continuação, temos a republicação de DC Showcase 22, que traz justamente a origem clássica do Lanterna Verde (o Hall Jordan, não o Alan Scott) dando uma continuidade direta a história anterior.

DC + Aventura # 02

Já a segunda edição de Marvel+ Aventura traz um encontro entre o Homem-Aranha e o Thor durante a saga O Cerco. A história escrita por Dan Jurgens e belissimamente desenhada por Tom Raney é divertida. Mas só isso. Se bem que essa É a proposta da revista.

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Aqui começam divergências maiores em termos de qualidade das histórias escolhidas. A edição 03 de M+A (Marvel+ Aventura, que já estou de saco cheio de escrever isso direto) trás a origem do Capitão América recontada  bem como a origem do Caveira Vermelha pela dupla Stan Lee e Jack “The King” Kirby. Já a edição 03 de DC+A (DC+ Aventura. Mas você já tinha entendido…) trazia uma história do Superman onde um escritor com um estranho poder trás o Superman clássico, aquele que era meio “sacana” e tava nem aí pra nada, para o nosso tempo até que Clark Kent entra em ação para tentar convencê-lo a parar. Honestamente, apesar da proposta interessante e tentativa de fazer algo poético, eu achei bem chatinha. E, não, eles não se encontram como a capa dá a entender. De bônus temos a origem do Superman por Joe Shuster e Jerry Siegel contada em duas páginas.

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As histórias seguintes da M+A variavam entre origens de personagens famosos da editora recontadas por artistas atuais, até republicações de histórias com artistas que estavam em alta desenhando personagens famosos, como foi o caso da edição 05, que trouxe Jim Lee, qua havia voltado aos holofotes após desenhar Batman:Silêncio e Superman: Pelo Amanhã, desenhando um crossover entre Wolverine, Capitão América e uma jovem Viúva Negra durante a Segunda Guerra Mundial. Enquanto isso, a DC+A apostava em histórias estreladas pela dupla Superboy e Robin com roteiros do Jeph Loeb em sua PIOR fase não sendo muito ajudado pelos desenhos do Pat Lee, do estúdio Udon, além de uma história bacana do Batman da série de TV de 1966 desenhada por Mike Alred, mas que acabava por causar a desconfiança dos leitores novatos que não tinham gostado da primeira edição e achavam que seria apenas mais uma “revista velha com capa nova”. E foi justamente com a abominação escrita por Jeph Loeb e desenhada por Pat Lee que a DC+A foi cancelada.

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M+A ainda traria Motoqueiro Fantasma, Surfista Prateado, Blade, e uma das mais belas histórias do Homem-Aranha na edição 09, escrita por Paul Jenkins e desenhada pelo  sensacional Paolo Rivera. Eu já havia resenhando sobre ela na época de minha jornada solitária no Hellbolha da era blogspot e tinha republicado no Baile dos Enxutos, mas o post parece ter sumido de lá após uma migração de servidor ou algo assim, e pretendo republicar o tal post aqui em breve pra vocês terem uma noção da coisa linda que é essa história. Ah, e as publicações de M+A fecham com a edição 10 trazendo uma história do Homem de Fero que é um prelúdio para o encadernado mais recente do personagem lançado pela Panini, Homem de Ferro: O Mais Procurado do Mundo.

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Como eu disse, creio que o maior erro da DC+A foi a escolha equivocada de histórias, sendo que muitas delas não presavam pela preferencia dos novos leitores por material mais contemporâneo, enquanto que a M+A trazia histórias mais recentes e visualmente modernas, excetuando a lindíssima edição 03 com a arte do Jack Kirby, mas, em compensação, começou a vacilar ao jogar algumas histórias que ficavam entre sagas e precisavam de um minimo de conhecimento prévio pra entender o contexto geral, como foi o caso da edição 07 estrelada pelo Surfista Prateado.

Até hoje lamento o fim da publicação tendo em vista a infinidade de possibilidades que ela oferecia. Uma delas seria sair do modo “one shot” e publicar histórias curtas dividias em duas ou três partes, tal qual uma versão mais econômica da saudosa da Grandes Heróis Marvel, também da Panini (em um formato herdado da Abril). Poderíamos ter a história do Super encontrando Krypton ainda inteira com roteiro do John Byrne e arte do Mike Mignola, ou Batman 1889, ambos em duas partes, por exemplo. Hoje, com a mandioca econômica que insiste em arrombar nossos bolsos, ela estaria custando uns R$3,99, mas ainda assim, seria uma publicação que eu acompanharia por não se focar em apenas um personagem e nos trazer histórias de uma época em que o foco não era chocar o leitor semanalmente mas, sim, contar boas histórias. Fica aí o saudosismo e a esperança para que um dia a Panini, quem sabe, volte a fazer algo assim. Bons tempos…boas coisas…