Kia Asamiya: Um Mangaká Muito Louco Aprontando nos EUA!

Este post  será estranho pra muita gente…

Recentemente lembrei de um mangá do Batman que a Mythos publicou no Brasil lááá nos primórdios dos anos 2000 e que me causou um trauma por não te conseguido a versão encadernada por uma simples questão de não ter o dinheiro na hora e morar longe da banca para um cacete. Enfim, o tal mangá era desenhado por um mangaká ( como são chamados os autores de mangá no Japão, seria algo como “Desenhista de mangá” ou “desenheiro de gibizinho”, em uma tradução sem frescura e muito livre) chamado Kia Asamiya que tinha um estilo MUITO diferente do que o publico brasileiro estava acostumado a ver.

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Pra quem não conhece, Kia Asamiya é o autor de vários mangás, como Silent Morbius e Steam Detectives. Ah, não conhece esses dois? E o OVA chamado Detonator Orgun que foi exibido pela TV Manchete no U.S. Mangá? Não, o anime não é de autoria dele, Asamiya apenas trabalhou no character designer. Ah, ainda não conhece? Bem…e se eu te disser que ele desenhou os X-Men?

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Sim, por volta do inicio dos anos 2000, Kia Asamiya acabou virando um xodó da Marvel e DC que queria o artista trabalhando em seus personagens a todo custo. Tudo começou com o “boom” dos animes que Pokémon acabou gerando nos EUA (não que Pokémon tenha sido a porta de entrada para mangás e animes nos EUA, longe disso, foi apenas um “novo boom”), a partir de então, tudo que tinha olho gigante estava na mira dos americanos. Foi quando a DC resolveu contatar, por motivos que desconheço, Kia Asamiya afim de que ele produzisse uma história do Batman 100% em seu estilo. Asamiya sempre foi grande fã do personagem junto a seu amigo, Masakazu Katsura, autor de Vídeo Girl Ai, tanto que ambos disputavam quem era mais fã. Podemos dizer que Asamiya ganhou muitos pontos na disputa, depois dessa…

Batman de Tim Burton por Kia Asamiya.

Batman de Tim Burton por Kia Asamiya.

Batman do Nolan por Masakasu Katsura

Batman do Nolan por Masakasu Katsura

A história, chamada de Batman: Child of Dreams (Criança dos Sonhos) não tinha nada muito original. Aliás, caia no velho clichê que é usado até hoje quando um personagem de comic ganha uma versão mangá ou anime, onde temos uma personagem (geralmente feminina) aleatória que serve como fio condutor da trama e todos os personagens secundários do universo do herói escolhido acabam sendo convertidos em esteriótipos de personagens japoneses. Na trama de Child of Dreams, Batman acaba descobrindo que todos os vilões estão usando uma nova droga que, aparentemente, os mata desfigurando-os alguns minutos depois. Batman acaba por descobrir que os vilões são, na verdade, pessoas comuns que sofreram mutações justamente pelo uso de tal droga, cujo efeito é deixá-las parecidas com quem desejarem. Aí o Batman acaba se envolvendo com uma repórter japonesa, a tal protagonista aleatória, e o resto é balela. Como eu disse, nada de inovador. No entanto, o mangá rendeu mais de 300 páginas com direito a uma versão do Batman 100% “Asamiyana” como vilão final.

O "Batman do mal" de Asamiya.

O “Batman do mal” de Asamiya.

Mesmo não sendo um poço de originalidade e lembrando as tramas do Jeph Loeb pro morcegão, onde ele enfrenta TODA sua galeria de vilões antes de chegar no vilão final totalmente novo (e sempre MERDA), a narrativa do mangá deu um charme ao universo do morcego, isso sem falar que Asamiya, grande fã dos filmes do Batman dirigidos por Tim Burton, traz muitos dos elementos dos dois filmes ao personagem e a ambientação, sem falar que seu Batman é gigantesco, intimidador e sombrio de um jeito que muito desenhista  americano não conseguiu retratar. Porém, os mais puritanos vão se incomodar com o traço de Asamiya, que é bem diferente até pra o estilo mangá mais “comum”.

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Com o sucesso do mangá, Asamiya acabou sendo solicitado para vários trabalhos no mercado americano. Seu próximo trabalho foi uma sequencia de histórias na revista Uncanny X-Men. Os X-Men acabavam de sair da aclamada e polêmica fase Morrison e os uniformes coloridos estavam voltando aos poucos. As histórias, escritas por Chuck Austen, começam mostrando uma nova fase na Escola Xavier e a interação do Fanático com um novo aluno com cara de peixe. Após essa historieta, temos uma pequena saga em quatro partes, onde os X-Men, liderados pelo Anjo (sim, você não leu errado, os Vinnie pira), enfrentam um grupo de…”lobisomens”. Mais uma vez, não é a história mais original do mundo…mas o estilo exótico de Asamiy traz o diferencial. As histórias da equipe liderada pelo Anjo foram publicadas no Brasil nas edições de X-Men 28,29 e 30 da Panini.

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Depois disso, Asamiya desenhou várias capas para Marvel e DC. Foram capas para Quarteto Fantástico, Capitão Marvel00, X-Men e Titãs. Ah, e o sujeito ainda fez capas para as HQs de Star Wars!

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E por falar em Star Wars, Asamiya acabou por desenhar histórias dentro do universo criado por Geroge Lucas por duas vezes. A primeira foi a adaptação do HORRENDO “A Ameaça Fantasma” e, em seguida, uma historieta de 22 páginas intitulada “Presa”, estrelada por Bobba Fett, o qual caça Han Solo antes dos eventos mostrados em “Uma Nova Esperança” e acaba por enfrentar o próprio Dath Vader em carne, osso e metal, com direito e duelo de sabre de luz e tudo o mais!

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Pra fechar os trabalhos “made in USA” de Asamiya, ele ainda desenhou uma história para a coletânea “Contos Bizarros” do Hellboy, intitulada “Soldado de Brinquedo”. Na trama, o capetão tem que exorcizar o espirito de três crianças que estão causando destruição em um local…que eu não lembro. Tudo acaba com um brincadeira de Jo-Ken-Pô.

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Excetuando algumas capas, todo esse material foi publicado no Brasil pela Mythos e pela Panini. Pela Mythos ainda tivemos a publicação do mangá Dark Angel, que tem uma história bem meia boca mas que é até divertido.

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Depois disso, Asamiya desapareceu do mercado americano e, bem…eu não me recordo de trabalhos recentes dele no Japão, mas não sou o ser humano mais informado dos últimos lançamentos editoriais do oriente. E, falando muito honestamente, eu realmente não entendi por que os americanos se limitaram apenas a paparicar Kia Asamiya naquela época. O cara tem um traço que me agrada, ele é angular, simples e tem o estranho vicio de fazer personagens masculinos extremamente narigudos e com olhos pequenos. Sua narrativa é bacana, no entanto, no próprio mangá do Batman, ela fica prejudicada pelo uso excessivo do preto , sobretudo na luta entre o Batman e seu clone no final do primeiro arco do mangá. Até hoje eu estou tentando entender que porcaria de golpe foi aquele…

Eu acho que é um chute giratório...mas não estou muito certo...

Eu acho que é um chute giratório…mas não estou muito certo…

Outro problema, e sendo bem honesto aqui, é que os comics são conhecidos justamente por terem seus universos localizados dentro de academias. PRATICAMENTE TODO MUNDO É BOMBADO! No caso do Jim Lee, esse “praticamente” pode ser retirado com tranquilidade. No entanto, Asamiya, assim como grande parte dos mangakás, não é conhecido por desenhar personagens marombados, salvo exceções quando se trata de um ou outro vilão. Assim sendo, sua anatomia é bem mau resolvida, com uma construção muscular estranha e disforme. Aí já não sei quanto de “estilo” e quanto de “não sei fazer mesmo, foda-se” tem na questão…

Atenção ao pescoço, braço e ausência de trapézio desse Anjo...

Atenção ao pescoço, braço e ausência de trapézio desse Anjo…

 Claro que esse não foi o único caso de mangaká desenhado personagens de comics. Tivemos Katsuhiro Otomo desenhado uma história do Batman, tivemos Tsutomu Nihei fazendo Wolverine, tivemos um bando de desenhista desconhecido fazendo um monte de versão mangá bem merda de vários personagens da Marvel e DC com desenhos medonhos (o mangá Batman: A Máscara da Morte, de 2014, é o exemplo mais recente). No entanto, Asamiya foi o único que trabalhou tanto pros EUA. Ele transitou pela Marvel, DC e…seja lá qual for a editora que publicava Star Wars. Acho que era a Dark Horse…

Hoje em dia temos alguns artistas japoneses fazendo uma coisa ou outra pros EUA, como é o caso de Yusuke Murata, ilustrador de One-Punch Man, que vem fazendo algumas capas MARAVILHOSAS pro Homem-Aranha e posters de filmes, como Power Rangers. No entanto, escrevendo e desenhado de fato, temos o caso de Shiori Teshirogi, de Saint Seiya: Lost Canvas, produzindo o mangá “Batman and The Justice League”, com o mesmo plot clichê básico dantes citado: Protagonista genérica japonesa que trás a missão da vez pros heróis. Olha, confesso que Lost Canvas é um dos mangás mais bonitos que já vi, no entanto, não acho que o traço da Teshirogi casou muito bem com a Liga não…todo mundo tá juvenil demais, e esse Batman tá bizarro…

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Enfim, fica aí a história dos tempos em que um mangaká foi elevado ao status de “astro dos comics” por um período relâmpago. Um post com informação inútil? Certamente! Mas, com certeza, uma informação curiosa! Aliás, pesquisando aqui, descobri que existe uma capa do Homem de Ferro na recente Guerras Secretas e do  Old Man Logan  do Asamiya, creio que os trabalhos mais recentes dele na Marvel, isso em 2015. Bem, então fechemos o post com elas. Até a próxima, amiguinhos!

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PS: Caso você seja uma alma iluminada e queira acabar com o trauma de um jovem idoso, aceitarei de bom grado a doação desta edição encadernada ilustrada na imagem abaixo e que me atormenta a quase 20 anos. Sim, isto é uma apelação safada! Mas nunca se sabe, né…!?

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