Hellraiser

O livro, não o filme. (Quantas vezes eu já escrevi essa frase?)

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Por décadas (e isso não é exagero) a obra mais conhecida do gênio do horror Clive Barker era inédita no Brasil, porém a Darkside Editora resolveu finalmente acabar com isso, e em grande estilo. Mas antes da análise física, uma breve explanação sobre a história.

Originalmente entítulada como The Hellbound Heart, Hellraiser se inicia com a história de Frank, o mais velho de dois irmãos. Frank é um hedonista que deixaria Calígula e o Marquês de Sade com inveja. Porém Frank não consegue se sentir satisfeito por muito tempo, não importa o quanto proibido ou intenso seja o prazer, e sua vida está fadada a um tédio sem fim. Nem mesmo a morte atrai Frank, não existe nenhum prazer que o mantenha vivo e nem pelo qual se merece morrer. Mas isso parece mudar após ele adquirir uma misteriosa caixa.

A caixa é uma chave para outra dimensão, criada séculos atrás por um artesão chamado Lemarchand, mas como ele adquiriu conhecimento para tal feito permanece um mistério. Aparentemente uma caixa de superfícies negras e sem qualquer atrativo, uma análise minuciosa mostra que a mesma se trata de um quebra cabeças, e que tal deve ser desvendado para que os seres de outra dimensão possam adentrar à nossa. Esse seres são os teólogos  da Ordem de Gash, conhecidos como Cenobitas.

Segundo Kircher, o responsável pela venda da caixa à Frank, os Cenobitas são seres superiores, conhecedores de prazeres e meios para alcançá-los muito mais intensos do que pode imaginar a mente humana. Para que eles compartilhem sua dádiva, oferendas devem ser postas no ambiente, além de desvendar a configuração da caixa. Cabeça de pombos, um jarro de urina, ossos, doces e agulhas. Após dias de empenho e concentração, Frank consegue desvendar a caixa, embora o resultado do mesmo possa não ser de seu agrado.

Os Cenobitas são seres que conhecem sim uma forma de prazer além da compreensão humana, e esse prazer advém do sofrimento. Não algo simples como mordaças e chicotes, e sim como dilaceração da carne, um eternidade de dor e sofrimento sem descanso algum, a profanação absoluto do corpo, mente e alma. Infelizmente uma vez aberta a caixa, o responsável pelo ato deve entregar o seu destino ao bel prazer dos Cenobitas, e então Frank é sugado para  uma dimensão onde o prazer como ele conheceu nunca existiu nem nunca existirá.

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Alguns meses depois o irmão de Frank, Rory, se muda para a casa onde o destino de Frank foi selado. Não apenas ele mas também Julia, sua jovem esposa. Julia talvez  um dia amou Rory, mas esse  sentimento desaparecei dias antes do casamento. O motivo? Frank. Com sua maneira de agir misteriosa e selvagem, Julia foi fisgada pelo rapaz até que o amor dos dois se consumou em um ato tão cru quanto brutal, quase uma violação. Mas Julia interpretou aquilo como amor, um amor o qual Rory nunca seria capaz de dar a ela.

Os dois são ajudados por Kristy, amiga de Rory. Diferente da bela e hipnótica ruiva com a qual seu amigo se casou, Kristy é uma mulher introvertida, uma figura deprimente com pouco ou nenhum traquejo social, não que ela almeje tal, já que ela simplesmente não suporta o contato humano. Secretamente, talvez não secretamente assim, Kristy nutre uma paixão por Rory, um sentimento que nunca foi nem nunca seria correspondido, ainda mais quando tem que competir com alguém como Julia.

Durante a arrumação pós mudança um pequeno acidente acontece, e sangue é derramado no chão do quarto onde Frank desapareceu de nossa dimensão, e isso acaba sendo o suficiente para que o irmão consiga se desvencilhar do  plano sombria e adentrar mais uma vez à esse mundo para passar uma mensagem. Essa mensagem é entregue para Julia, que nunca esqueceu Frank, e agora é ele que depende dela, precisa que ela o alimente com sangue.

Pra quem viu o filme provavelmente essa resenha não traga muitas surpresas, a única alteração para a versão cinematográfica é o fato de que na película Kristy é filha de Rory, o que torna as cenas finais um pouco mais perturbadoras. Algumas coisa também foram acrescentadas no filme, como a famosa improvisação “Jesus wept”, mas de maneira geral o que se vê na tela e se lê no livro são muito semelhantes. O grade motivo é que Clive não é apenas o escritor, mas também roteirista e diretor do primeiro filme.

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Esse é um livro bem rápido de se ler, apenas 150 páginas e com letra relativamente grande, fácil de se terminar em uma tarde. Essa tarefa acaba se tornado mais fácil ainda graças a estrita de Barker, de fácil entendimento e cenas de curtas a média duração, sem descrição excessiva ou escassa, apesar do autor se concentrar muito mais nos pensamentos e sentimentos de seus personagens do que no ambiente ou ação.

Não conhecia a Editora Darkside, e após adquirir esse livro e Evangelho de Sangue (assunto para outro post) me tornei automaticamente fã. O tratamento gráfico dado à obra de chorar de alegria tanto fãs do escritor quanto fãs de literatura de horror ao até mesmo fãs de livros. A para é em couro e relevo que lembra a superfície da famosa caixa tanta vezes ilustrada em outras mídias. A caixa inclusive é a peça central da capa, em sua versão “ativada” na capa e em formato original na contra capa, pintada em dourado, constando apenas ela e o nome do autor. Para um conhecedor da obra  isso basta, mas o nome do livro se encontra estampado  na lombada.

O interior do livro também é um deleite. As folhas são de alta qualidade e um pouco mais grossas que o comum, garantindo um volume bom para um livro com poucas páginas. Além disso os capítulos são separados por folhas negras com faces da caixa estampadas, e tanto no início quanto no final do livro estão presentes algumas ilustrações de “Pinhead” feitas pelo próprio Barker (que além de escritor é artista plástico mais uma caralhada de coisas) e fotos do ator Doug Bradley como o lendário personagem.

Claro que tudo isso tem um preço, e 49,90 golpinhos satânicos possa parecer muito dinheiro para um livro de pouco mais de 150 páginas, mas além de um clássico da literatura de horror os caras capricharam muito. Pra quem for esperto, ainda dá pra comprar ele por metade do preço, o que é uma promoção ótima (link para compra aqui, esse não é um podcast patrocinado). Cometi o erro de entrar no site da Darkside Books e me deparei com um extenso catálogo com outros livros de terror, então prevejo uma longa e bonita amizade surgindo (da qual eu mais  uma vez vou sair falido).

PS: as fotos que ilustram o site foram tiradas da internet pois estou com preguiça de tirar minhas próprias fotos. Valeu aí quem tirou, o link pro local original está ao clicar nelas.

Godoka
15/09/2016