Hellboy no inferno- Um fim inesperado para uma grande saga…

E vamos falar de Hellboy de novo! (ATENÇÃO: ALERTA DE SPOILERS)

Como muita gente sabe (e acho que é um tanto óbvio pelo meu “codinome” e minha foto de perfil na assinatura do post), eu sou um dos milhares de fãs do Hellboy. Recentemente expressei minha frustração pelo fato dos preços dos encadernados do vermelhão serem tão altos, graças a Mythos e, por isso, muita gente ver a possibilidade de ter as edições físicas como uma realidade distante. Eu, com muito afinco, consegui grande parte do material do vermelhão através de garimpagem na internet e trocas. Consegui “Hellboy no  Inferno Vol.1” da Mythos este fim de semana através de uma troca. No dia seguinte, li o resto em scans traduzidos em espanhol, já que não os encontrei em português, e me deparei com o fim da “linha central” da saga do meu personagem favorito (ainda haverão muitas outras histórias do Hellboy, já que entre 1945 e 2017 tem tempo e histórias de sobra para serem contadas). e devo dizer que fiquei extremamente surpreso com o que vi…

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Hellboy tem o mérito de ter uma das cronologias mais organizadas da história dos quadrinhos. Surgindo nos quadrinhos Next Man, do John Byrne, em 1993, ganhou revista própria em 1994, com arte de seu criador, Mike Mignola, e roteiros de John Byrne, já que Mignola não se sentia seguro o suficiente pra “dar uma de roteirista”.  Depois de “Sementes da Destruição”, primeiro arco de Hellboy, John Byrne deu um puxão de orelha em Mignola e disse que ele tinha, sim, capacidade de escrever, e estava certíssimo! A partir daí tivemos um Mignola que se mostrou não só um baita desenhista como um roteirista extremamente talentosos e, acima de tudo, ZELOSO com seu personagem, publicando Hellboy apenas quando tinha uma boa história pra contar e evitando entregar o personagem nas mãos de qualquer um, seja nos desenhos ou nos roteiros.

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Primeira aparição de Hellboy em Sementes da Destruição!

Com isso, Hellboy seguiu em uma crescente de qualidade, com uma linha central na trama que seguia sempre em frente, a qual começou com “Sementes da Destruição” e terminou em “No inferno”, alternando com pequenas histórias fechadas que se passavam em distintas épocas, mostrando alguns de seus casos do Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal. Todas com o mesmo zelo e cuidado que Mignola dava a linha principal.

Com o passar dos anos, Mignola se tornou um escritor tão notório que acabou vindo a roteirizar um sem número de outras HQs e livros de terror e mistério, como “Baltimore e o Vampiro” e “Zombie World”, por exemplo. Com isso, ele foi cedendo os traços de Hellboy a outros desenhistas, mas apenas aqueles que passavam pelo seu crivão, como foi o caso de Richard Corben e Duncan Fegredo, sendo o primeiro mais comum em histórias curtas do vermelhão e o segundo assumindo efetivamente as histórias da linha principal, dado sua proximidade com o traço de Mignola. Foi com Fegredo que tivemos a trilogia que culminaria com a morte de Hellboy, a qual começou em “O Clamor das Trevas” se seguiu com “Caçada Selvagem” e fechou as cortinas com o épico “Tormento e Fúria”

Arte de Fegredo para "Caçada Selvagem".

Arte de Fegredo para “Caçada Selvagem”.

Iniciou-se, então, Hellboy no Inferno”, marcando o retorno de Mignola aos desenhos. No entanto, o traço de Mignola, conhecido pela “complexa simplicidade” acabou sofrendo o que eu chamo de “regressão reversa”, ou seja, parecia que ele estava involuindo (falarei disso em um post separado) e isso já não me agradava muito. No entanto, “Hellboy no Infeno” começa muito bem, mostrando que o reino das trevas está em crise, pois seu governante, Satanás, foi assassinado logo após a chegada de Hellboy. Descobrimos que o pai de Hellboy, Azzael,  foi castigado e condenado a viver preso em um tipo de sarcófago de gelo (beijo, Hyoga) por ter dado a Hellboy, o único de sua linhagem que não tem interesse em comandar as hordas do inferno contra o mundo humano, a Mão Direita da Perdição. Também é mostrado como essa mão foi parar no braço de Hellboy, e foi de uma maneira bem cruel. Ainda no inicio da trama conhecemos também os irmãos de Hellboy, Lusk e Gamon, que queriam tomar a Mão Direita para si e governar o inferno.

O castigo de Azzael.

O castigo de Azzael.

A trama está toda engatilhada para que algo grandioso aconteça e…Mignola decide contar histórias curtas e sem importância a partir da quarta edição! Por que? Não faço a mais parca ideia! Mas, de acordo com o próprio Mignola, ele não queria jogar Hellboy em uma grande cruzada épica, ele preferia fazer histórias onde ele simplesmente…perambulava pelo inferno! Velho, eu nunca imaginei que fosse ler uma história do Hellboy que me decepcionasse tanto…

Dos números 5 à 9 das 10 edições quem compõem “Hellboy no Inferno”, Hellboy se lança em pequenas historietas que não trazem quase nenhuma contribuição para a trama principal iniciada nos seus 4 primeiros números. No décimo, quando a trama é retomada, temos um salto gigantesco nos acontecimentos, que são narrados através de um demônio menor que está na edição 5 e dá aquela sensação que Mignola se inspirou no filme Godzilla de 2014, pois sempre que o pau ia quebrar com o monstrão, o filme mudava o foco para um personagem humano wathever  que você NÃO QUERIA VER! E olhe que o que demoniozinha conta que o Hellboy fez é de um nível ÉPICO inacreditável demais pra aceitar que o Mignola simplesmente CAGOU pra aquilo!

Se esse fosse o filme do Godzilla,  a cena a seguir seria um corte pra um soldadinho qualquer!

Se esse fosse o filme do Godzilla, a cena a seguir seria um corte pra um soldadinho qualquer!

Olha, eu vou ser bem honesto…eu estou realmente desgostoso com “Hellboy no Inferno” mas feliz por existir Tormenta e Fúria. Sim, por que TeF também pode ser interpretado como um final para Hellboy e de um modo extremamente heroico, e indo contra tudo que as profecias diziam dele, pois derrotou Ogdru Jahad e ainda salvou o mundo (se bem que houve destruição e morte pra cacete e um pequeno portal para o inferno ficou com a porta entreaberta, o que faz dele salvador novamente em No inferno, já que ele acaba com a porra toda na cena narrada pelo demoniozinho).

Por fim, Hellboy ainda segue como uma grande HQ mas prova também que nem tudo pode ser perfeito. Talvez Mignola tenha ficado cansado, pois ele mesmo diz que penou pra desenhar essas 10 edições de Hellboy por estar escrevendo tantas outras coisas, e isso o afetou de muitas maneiras, seja na escrita (apesar de ele ter dito que já tinha Hellboy no Inferno todo planejado) que ou no traço (calma que ainda vai ter post sobre isso, lembra?). E é exatamente por ainda ser uma grande HQ que vou reler meus encadernados (conseguidos a muito custo) de novo e em ordem, e esperar que um dia a Mythos ponha a mão na consciência e eu possa ler todo os outros materiais que não pude ler até hoje, e tantos outros que ainda sairão. Sim, por que Hellboy pode te morrido, mas ainda há muita história pra contar!

Nota: 6,0