Fundação

Que saga!

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Não dá pra mencionar ficção científica sem mencionar o nome de Isaac Asimov. O escritor russo naturalizado americano escreveu e editou quase 500 livros durante a sua vida, e por mais que muito da imortalidade de seu nome ser devido a essa modalidade de escrita, ele também alcançou sucesso ao escrever obras detetivescas e livros de suspense e mistério. Mesmo quem nunca leu nada escrito por ele pelo menos deve ter ouvido falar nas três leis da robótica, criadas na ficção mas que possuem aplicação real.

E entre as principais obras de Asimov, Fundação se encontra no topo.

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De lá pra cá: Hari Seldon, O Mulo e Arkady

Escrita na década de 50, Fundação originalmente se desdobrava em três livros: Fundação, Fundação e Império e Segunda Fundação. Nos anos 80, quando os livros originais já eram considerados bastiões da ficção científica, Asimov resolveu revisitar esse universo e escreveu mais quatro obras, sendo duas sequências (Limites da Fundação e Fundação e Terra) e duas prequels (Origens da Fundação e Prelúdio à Fundação). Com esses livros ele também fez algo mais ambicioso, que foi interligar toda a sua obra em uma muito extensa linha cronológica, e, para que isso transcorresse com o menor número de furos possível, quase todos os seus livros sofreram retcons.

Meu conhecimento da obra de Isaac Asimov é por demais limitado, então não posso falar sobre a decisão de mudar partes de sua obra anos depois do relançamento. Também não li os quatro livros lançados três décadas depois, de forma que esse post é sobre a trilogia principal, relançada pela Aleph no Brasil pela primeira vez em sua versão rearranjada e definitiva, assim como é a primeira vez que os livros saem aqui em volumes separados.

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A história de inicia no ano 12.061 da Era Galática. Nesse futuro a humanidade se espalhou por toda a galáxia, colonizando cada planeta habitável. A história da humanidade é tão extensa que suas origens se perderam através das eras, e hoje em dia nem ao menos se sabe em qual planeta essa origem teria acontecido. Por mais de dez mil anos a humanidade se viu unida sob a bandeira do Império, que não encontra resistência em nenhum ponto habitado do universo. E no centro do universo, e consequentemente no centro do Império, está Trantor, um gigantesco planeta com um único objetivo: ser o centro administrativo do Império.

Trantor é um planeta cuja superfície foi completamente coberta pelas cidades, na verdade uma só cidade. A superfície está encoberta por uma camada de metal, e nada é produzido por Trantor, ela é abastecida por outros planetas com comida e o que mais for necessário para o progresso, seu único objetivo é manter o Império funcionando, e tem sido assim desde o início. Mas tudo que tem início invariavelmente possui fim, e esse fim geralmente não é percebido até que o caos esteja instaurado. Só que existe uma pessoa capaz de prever o que ninguém vê.

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Hari Seldon, psicólogo e matemático. Sendo a matemática a linguagem científica universal, dizer que todo estudioso, todo cientista, por mais humana que seja a sua área de atuação, também é um matemático é meio redundante, portanto assuma que todo homem da ciência é uma matemático mais alguma coisa. A partir de seus conhecimentos Seldon desenvolveu uma ciência chamada de psico história, que é capaz de prever o futuro. Não o futuro de uma pessoa apenas, que está inundado de variáveis, mas o futuro de grandes populações, quanto maior a população mais exatos estão os cálculos. Então, quando a população analisada acaba sendo o Império e todos os planetas que o compõe, nada pode ser mais exato.

E os dados mostram que o Império está morrendo.

Não é um processo rápido como o desmoronamento de um castelo de cartas, mas o Império irá ruir. Na verdade o declínio se iniciou há décadas, de maneira imperceptível, e continuará se acentuando até que em trezentos anos Trantor estará em ruínas. Infelizmente o processo já se encontra em um ponto sem retorno, e o atual Império não pode ser salvo. Os dados apontam também um período de dez mil anos de barbárie até que um novo Império surja, se o plano de Hari Seldon não for aceito, claro.

O psico historiador propõe a criação de uma Fundação, um agrupamento de cientistas, de mentes brilhantes cujo objetivo é reunir todo o conhecimento atual em uma enciclopédia, uma obra que será o ponto de partida para o novo rumo da humanidade e, se os cálculos estiverem certos (e estão) em apenas um milênio um novo Império mais forte e justo que o anterior surgiria. Porém mil anos ainda é muito tempo, o bastante para a Fundação evolua e se torne o centro da galáxia em transformação.

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Quando você finalmente lê/escuta/joga/consome de maneira geral alguma coisa altamente recomendada e bem falada, e que suas expectativas encontram-se nas alturas antes do primeiro contato, é normal que surja um certo desapontamento durante a sua experiência. Por causa disso eu procuro manter os pés nos chão, diminuir a empolgação para níveis aceitáveis. A trilogia Fundação estava no meu topo de obras a serem adquiridas há alguns anos, e recentemente tive o prazer de adquiri-la. Toda a espera valeu a pena.

Não sou um profundo conhecedor da obra de Asimov. Pra ser sincero o autor foi responsável pelo meu fascínio em relação a ficção científica, e isso se deu graças ao livro Eu, Robô, e depois dele acabei por procurar outras pastagens. E por mais que  eu ame o livro que narra a evolução das máquinas até alcançarem o status de formas de vida, Fundação é com certeza uma das melhores coisas com temática espacial que já tive contato.

No meio do segundo livro me peguei indagando “como diabos não adaptaram isso para o cinema ou  televisão antes?”, mas depois de pensar um pouco acabei ficando grato por isso nunca ter acontecido. Fundação são livros que se passam em um período de séculos, lotado de personagens incríveis e carismáticos, além de planetas e paisagens magníficos, mas não é uma obra facilmente adaptada devido ao seu ritmo, um pouco lento e baseado em diálogos. Existe ação, existem batalhas no espaço e guerras nos planetas, mas é apenas um pano de fundo para o desenvolvimento dos personagens, nunca a atração principal.

Esse ritmo mais devagar inicialmente soa como algo negativo, mas não é.  A linguagem usada por Asimov é de fácil assimilação, mesmo para livros escritos nos anos 40-50, e ele não se prende em detalhes e descrições técnicas, e quando essas se fazem presentes são facilmente compreendidas. Cada livro possui por volta de 240 páginas, então não dá tempo de ser enfadonho mesmo se o escritor se esforçasse para isso. Levei cerca de 3 dias para ler cada volume pois acabei lendo em um período mais tranquilo. As edições podem ser compradas separadamente ou em um box bem bonito, em papel cartão preto e ilustrado com a espaçonave e sol símbolo do Império. Não gosto de rotular algo como sendo obrigatório, mas aqui dá vontade de falar isso.

Godoka
14/12/2016