Wake up, Crono.

Produzido pela saudosa Squaresoft e contando com um grupo de caras no auge do seu talento, Chrono Trigger é, merecidamente um dos 5 melhores RPGs já feitos.  Se uma lista não constar com esse jogo entre os 5 primeiros, é mais confiável comprar um carro usado do Maluf. E tem que estar no Top 10 de melhores jogos de todos os tempos pela mesma razão. É bom assim.

E não sou apenas eu falando.

Os personagens foram feitos por Akira Toriyama num momento de transição entre os visuais mais simples do começo da carreira até quando ele começou a fazer mais complexos, tipo com aquelas botas esquisitas que ele passou a fazer.

O protagonista é o silencioso Crono. Ele não fala, como era praxe naquela época, mas acena com a cabeça em resposta a alguns diálogos.

A primeira que você encontra é Marle, a princesa do reino de Guardia e que fugiu do castelo para aproveitar a Feira Milenar.

Mas a primeira personagem que você recruta é Lucca. Amiga de infância de Crono e inventora do teleportador que começa a aventura.

Na idade média o sapo/ cavaleiro Frog entra no grupo. Ele está em uma missão buscando destruir o exercito de monstros do feiticeiro Magus que ameaça Guardia nessa época.

O robô Robo vem do futuro, naturalmente. O futuro está um desastre e ele acaba se aliando ao grupo para tentar mudar isso.

Na pré historia se recruta a mulher das cavernas Ayla e ela vai usar sua força para encher seus inimigos de porrada. A despeito de quase sempre ser desenhada com um porrete, ela usa sempre socos nas lutas.

E se você souber como fazer as coisas direito, pode recrutar Magus para o grupo. Ele começa com umas magias bem fortes e pode realmente ficar ignorante mais pra frente.

Esse é todo seu grupo. E talvez por ser um numero pequeno, a Square conseguiu desenvolver bem eles e torna-los marcantes pra caralho. E não só eles. Muitos dos personagens secundários também, como os inimigos Ozzy, Axel e Flea, Schalla, o guri azarado que acaba sendo confundido com um herói, entre outros.

A historia começa com Crono indo até a Feira Milenar para ver a nova invenção de sua amiga Lucca. Nisso ele tromba com uma garota. Ela se torna voluntária na máquina de Lucca. Mas uma estranha reação do aparelho com o colar dela abre um portal que a transporta para algum lugar.

Lucca cancela a apresentação, Crono apanha o colar que ficou caído na plataforma e se voluntaria para ir atrás da garota, Marle e Lucca resolve acompanha-lo. Após ativarem a máquina os dois descobrem que estão no passado, e após descobrirem que Marle é a princesa, testemunham seu sumiço, desta vez não como um portal, mas como se estivesse sumindo no ar.

E a historia segue com eles viajando por várias épocas até descobrir que o mundo no futuro será destruído por uma estranha criatura chamada Lavos e eles resolvem impedir isso.

Há uma mudança legitima no mapa e nos ambientes nas diversas épocas e as vezes uma atitude ou mudança no passado afeta o futuro. Um exemplo é um sujeito que você encontra no presente. É o cara mais rico e mesquinho da cidade e todos o odeiam. Então, tem um menino na idade média a quem você ensina humildade e generosidade. Ele passa esses valores para seus descendentes e quando você volta ao presente, o cara que era um babaca se tornou legal, ainda rico, mas generoso com todos.  Esse é só um exemplo.

Os combates são por turnos, mais ou menos. Para cada ataque é preciso aguardar encher uma barra. Alguns personagens enchem mais rapidamente e alguns itens ou magias afetam essa velocidade, favorável ou desfavoravelmente. Foi feita uma concessão aos fracos (fracos. FRACOS!!!) e os inimigos são visíveis na tela, de forma que os fracos podem fugir deles. Nada de batalhas aleatórias. Exceto se você for emboscado em algum lugar.

Cada personagem tem acesso a armas, que são individuais (Crono usa katanas, Frog usa espadas, Marle usa bestas etc…), e três peças de armadura (que podem ser masculinas ou femininas, ou individuais) e uma? Peça de equipamento, que afeta status ou dá algum tipo de vantagem. Existem também as magias, cada um de um tipo, exceto Robo e Ayla, que são de épocas onde não existe magia. Mas eles tem habilidades próprias. E os techs, que são ataques especiais. Cada personagem tem três e ainda tem os dual techs e os triple techs, onde dois ou três personagens se juntam para causar um dano absurdo ou status especiais.

Marle lança fogo porque quando Toriyama fez o desenho, o jogo ainda estava em versão beta

A trilha sonora é primorosa. Primorosa ouviram? Yasunori Mitsuda tava inspirado e criou uma das melhores trilhas já feitas, no mínimo uma das mais consistentes. Todas as musicas são de qualidade e estão entre as melhores de todos os tempos.

E já que falamos de Mistuda, o resto do time de criação era o fino do fino. Hironobu Sakaguchi como designer principal, Nobuo Uematsu dando uma mão nas músicas, Yuji Horii (criador de Dragon Quest) escrevendo a historia. E na direção três caras fodas Takashi Tokita (Final Fantasy IV), Yoshinori Kitase (Final Fantasy VI) e Akihiko Matsui (battle designer de FF).

Os gráficos são muito bonitos, bastante detalhados, com umas paradas legais como as roupas se movimentando.

Na mais gloriosa tradição dos RPGs há duas formas de avançar no jogo. Ficar fazendo grind ou encarar na cara e na coragem. O jogo pode ser difícil em alguns momentos, difícil pacas na verdade, então algum grind será inevitável. Felizmente o combate é uma diversão e fazer grind chega a ser relaxante.

E você pode jogar várias vezes no  Game +, mantendo seus níveis e status e fazendo todos os 12 finais. Na primeira jogada são possíveis dois finais e a diferença é quando e em quais circunstancias você enfrenta Lavos.

Há duas continuações, modo de dizer, Radical Dreamers que só foi lançado em 1996 e Chrono Cross de PS1 e merecem uma explicação à parte. Esses dois jogos não tiveram participação de praticamente ninguém dos grandes nomes de Chrono Trigger, sendo escritos e dirigidos por Masato Kato. Não vou discutir os méritos como jogos, e particularmente não gosto de ambos, mas para a historia de Chrono Trigger, essas “continuações” , e vou usar aspas, são o equivalente da Gwen Puta.

Querem mesmo saber? Crono e Marle se casam (isso aparece no final da versão de Chrono Trigger no PS1) mas são assassinados por Dalton (um chefe do jogo original que é um bobão completo) e Lucca morre num incêndio provocado por Linx (que pelo menos é realmente perigoso). E mais, nada que os heróis fizeram foi bom e na verdade eles só pioraram tudo. O diretor admitiu ter agido para tornar a história “dele”.

Então  Chrono Cross e Radical Dreamers não existem na minha Chronologia. São fanfics.

As pessoas tem boas memórias desse jogo e não é a toa. Atualmente, com emuladores pra tudo, não há desculpa para não jogar Chrono Trigger, mesmo no onibus. Não é o melhor  jeito de jogar, que seria num console, em casa, mas é preferível a alternativa de nunca jogar. Um dia vou contar a forma estranha consegui jogar essa lindeza pela primeira vez.