Black Sabbath – Black Sabbath

Esse disco ainda me dá arrepios.202

Sim, mesmo depois de anos após a primeira audição, a primeira visualização da capa sinistra (uma das mais sinistras do metal na minha opinião), mesmo após o descobrimento de bandas mais pesadas e sombrias, esse disco ainda me dá calafrios.

Mas não é assim que essa coluna começa, e sim como termina, então vamos voltar à maneira tradicional, falando pela banda. O Black Sabbath não nasceu Black Sabbath, esse nome surgiu após os integrantes descobrirem a existência de outra banda chamada Earth, nome que usavam na época. O nome que conhecemos hoje foi sugerido pelo baixista Geezer Buttler após o mesmo assistir o filme homônimo de 1963, dirigido pelo italiano Mario Brava e estrelado por um dos maiores ícones do cinema de terror, Boris Karloff.

https://www.youtube.com/watch?v=X3c3gsjgdXA

Após um período de 6 anos de mudanças de formação e shows que surpreendiam a todos pelo som inovador e pesado, em 1970 o primeiro disco é lançado, batizado apenas com o nome da banda, cuja formação na época contava com Tony Iommi na guitarra, Geezer Butler no baixo, Bill Ward nas baquetas e o icônico Ozzy Osbourne (chupa Vinnie!) nos vocais. Um disco cru, áspero de uma banda estreante que alcançou o expressiva oitava posição nos mais vendidos da Inglaterra na época.

E sobre as músicas? São apenas 8 faixas, sendo uma delas um cover, e só isso basta pra esse disco ter se tornado um clássico absoluto. De cara temos Black Sabbath, que se inicia com um som de chuva e trovões até uma introdução instrumental explosiva. A letra trata sobre bruxaria (o sabá negro seria uma data do ano importante para bruxas e praticantes de magia negra), e de cara temos uma das marcas registradas da banda que acabou se tornado também uma das características do heavy metal: letras sobre magia, satanismo, bruxaria, ocultismo e fantasia, tudo bem simples, como um filme de terror, longe do que se tornaria no futuro com as bandas de black metal.

https://www.youtube.com/watch?v=Pq1JrJHQlAc

Na sequência temos The Wizard, uma das melhores do disco e uma das minhas favoritas. A pegada da música é bem simples, com algumas quebras de ritmo, e talvez o seu ponto mais marcante seja a introdução, um acorde simples de gaita tocado por Ozzy. Behind The Wall of Sleep é a terceira música, e é uma boa faixa, mas que acaba sendo apagada por suas vizinhas, pois se ela é precedia do The Wizard, a que vem depois é uma dos clássicos absolutos da banda e outra das minhas favoritas, N.I.B..

Tudo nessa música é sensacional, a introdução que é um dos riffs de baixo mais icônicos do metal, os maravilhosos solos de guitarra, a bateria pesadíssima, e ouso dizer que nunca Ozzy Osbourne cantou de  maneira mais perfeita como nessa música (ok, talvez em War Pigs ele tenha feito um trabalho tão bom). A letra também é um capítulo à parte, contando a história da paixão do  demônio por uma mulher humana. Sinceramente, pra mim a banda só se superou no quesito letra quando Heaven And Hell foi lançado, dez anos depois.

https://www.youtube.com/watch?v=TNKttMFgaf0

Evil Woman, a próxima música, é outro caso à parte. Adorada por alguns, odiada pela maioria dos fãs, o fato é que nem a banda queria colocá-la no disco, mas acabou cedendo à exigência da gravadora por uma faixa mais comercial para divulgar o disco, e acabaram por colocar esse cover da banda americana de blues Crow. Detalhe: Evil Woman foi o primeiro single deles.

Sleeping Village é a música mais lenta do álbum, se iniciando no violão e depois partindo para um momento instrumental com um maravilhoso solo de Iommi. Considero ela a música mais apagada do disco, mesmo com o solo, a ideia foi mais bem aproveitada no disco seguinte, Paranoid, com a sensacional Planet Caravan. Warning, a sétima música é uma pérola de pouco mais de dez minutos onde Iommi desfila toda a sua habilidade e megalomania com solos de guitarra. A bolacha encerra com Wicked World, um heavy rock com fortes influências de blues e um riffzinho muito do sacana. Uma ótima música e uma maneira muito boa de encerrar o disco, mas particularmente nunca foi das  minhas favoritas.

https://www.youtube.com/watch?v=XfhLijO_8n0

E agora sim, a parte  mais pessoal do post. Antes desse disco, antes do Black Sabbath em geral, meu conhecimento de metal se resumia ao álbum Dance of Death, do Iron Maiden, e do segundo disco do Linkin Park, que eu nem me lembro do nome mais. Sim, eu sei, eram tempos sombrios. E eu como um jovem cabaço que estudava em colégio de freira e ouvia horrores sobre as bandas de metal possuía um certo medo de Black Sabbath, assim como de Alice Cooper, KISS e Marilyn Manson. Com o tempo descobri que se você quer ouvir verdades o último lugar a procurá-las é com gente muito religiosa, mas foi um esforço de curiosidade e libertação de preconceitos ouvir essas bandas, e ainda bem que isso aconteceu, pois a partir delas eu conheci muitas outras.

Paranoid pode ser um disco mais famoso, ou até melhor do que Black Sabbath, mas foi com o álbum da capa medonha que eu comecei a trilhar um caminho com menos crendice e mais tolerância, inclusive em relação a estilos musicais que não aprecio.