Sinceramente eu não sei como começar essa análise.

Eu queria muito ter escrito este texto ontem mesmo, após chegar em casa do cinema, mas não pude. Já era meia noite e eu precisava acordar cedo pra trabalhar no dia seguinte, hoje. Então eu dormi, fui para o trabalho, voltei para almoçar em casa, retornei ao trabalho, e ao chegar em casa ainda me troquei e fui na academia. Durante todo o dia de hoje eu fazia as minhas atividades pensando neste texto.

E quanto mais eu pensava, pior o filme se tornava na minha cabeça.

Também evitei qualquer contato com outras pessoas que tivessem já assistido ao filme. Com exceção de meus amigos que foram comigo ao cinema, eu não conversei com mais ninguém. Talvez isso tenha sido um erro, pelo menos eu teria piadas para fazer sobre o filme, mas nem isso eu consigo.

Eu realmente estava esperando algo desse filme, mesmo tendo Zack Snyder como diretor. Tudo bem, minhas expectativas não eram muito otimistas, mas um filme ok para mim já estaria de bom tamanho, e nem isso foi possível. Nada de piadas sobre Marvel X DC nos cinemas, o fato é que esse filme é extremamente decepcionante.

Não há empatia por nenhum personagem, nenhum. Suas motivações são mal desenvolvidas a ponto de serem consideradas inexistentes. Esse novo Superman consegue ser a versão mais apática já feita nos cinemas, sendo inferior até mesmo àquele interpretado por Brandon Routh no fiasco de Brian Singer. Em alguns momentos é possível sentir saudades de Routh no papel, o que eu sempre imaginei ser impossível. Pelo menos esse filme pode se gabar de tornar o impossível em possível.

Ben Affleck até que tentou, mas sua versão de Bat Assassino não ficou boa. A primeira aparição do personagem ficou realmente incrível na abordagem de um herói que causa medo inclusive nos inocentes que jurou proteger, mas todo  resto no desenrolar do filme joga esses minutos de satisfação no lixo. Será que alguma vez o diretor desse filme leu ou pesquisou algo sobre os personagens que estava adaptando? Provavelmente não, pois se tivesse feito isso não teria transformado o herói que odeia armas em um maluco fantasiado que metralha pessoas e explode carros tripulados.

A presença da Mulher Maravilha é como esse paragrafo: curta.

Ontem eu assisti um filme de duas horas e meia com provavelmente os três personagens de quadrinhos mais icônicos do ocidente que não me empolgou em nenhum momento. Não deveria ser difícil, afinal, ninguém que não lia quadrinhos fazia a mínima ideia de quem eram os Vingadores e o filme foi um sucesso, mesmo com seus incontáveis erros e inconsistências. E já que a palavra erro foi citada, acho que dá pra enumerar alguns.

Os sonhos do Batman foram erros. Graves. Assim como foi um erro terem chamado Zack Snyder anos atrás de visionário, pois parece que ele ainda acredita nisso. Um monstro saindo do túmulo dos Wayne, o futuro pós apocalíptico onde o Batman é o Mad Max da resistência, o Flash que apareceu mas era um sonho também, tudo aquilo foi um erro. Parece que o diretor esqueceu que as coisas  precisam fazer um certo sentido, mesmo que seja mínimo.

Lex Zuckenberg foi um erro, talvez o pior de toda a película. Sua primeira aparição na tela foi decepcionante, enquanto as demais foram enervantes. Apenas um garoto mimado que teve problemas com o pai. De todas as motivações mal trabalhadas talvez a desse arremedo de personagem seja a pior. O mais apaixonado (ou bitolado) dos fãs deve ser capaz de defender todos os problemas desse filme, menos esse Lex. Isso está além de qualquer defesa.

Nem mesmo a execução técnica do filme foi razoável. Por muitos momentos a sensação que eu tinha era a de estar assistindo vários videoclipes que foram agrupados juntos de maneira quase aleatória, obedecendo o mínimo de linha cronológica. A trilha sonora também é de dar nos nervos, parece deslocada em muitos pontos. A sensação é de que deram para metade da orquestra a parte errada da partitura, então onde era pra haver silêncio de repente surge um rompante sonoro em uma tentativa forçada de criar um clima.

Apocalipse foi um erro. Um monstro colocado aos quarenta e cinco do segundo tempo só pra forçar uma luta maneira, que não ficou maneira. Zack Snyder adora slow motion, e justamente em uma cena em que ele poderia ter abusado desse efeito ele não é usado. A luta apresentada em panorama, dando destaque em todos os envolvidos na ação acabou sendo uma péssima escolha, pois com um monstro do tamanho de um mamute no centro  da tela, a movimentação de Super e Maravilha ficou apagada.

Os meta humanos foram um erro. Em um filme que joga um monte de informação e um nada de explicação na sua  cara, as aparições de Flash, Aquaman e Ciborgue foram um belo de um desperdício. Pelo menos foi a atuação da vida do Jason Momoa.

A morte do Superman foi um erro. Não por ele ter morrido, mas porque o impacto foi zero. O maior herói de todos os tempos morreu, um ícone da cultura pop e base para uma infinidade de outros personagens da própria editora e sua principal concorrente morre e você solta um simples “foda-se”.

O clubinho dos heróis com a mãe chamada Martha foi um erro, mas esse eu nem vou me dar ao trabalho de analisar.

Mesmo assim o filme é um sucesso comercial, já quebrou recordes e provavelmente vai quebrar muitos outros. A sala do cinema ontem estava lotada, e de um público bastante heterogêneo, e isso para mim é um ponto bastante positivo. Negativo mesmo foram as expressões gerais de descontentamento quando as luzes se acenderam no final da projeção. Mas mesmo assim o filme alcançou o seu objetivo, que é  fazer muito dinheiro, qualidade é só um objetivo secundário. Que venham agora os filmes da Liga, Mulher Maravilha, Flash, Metamorfo, Gladiador Dourado, Besouro Azul e qualquer outro herói branco que vai ganhar um filme antes do Ciborgue ou do John Stewart, por exemplo. Aguardo ansiosamente o desenrolar da DC no cinema, mas acho que vou acompanhar só quando passar na TV.