A Divina Comédia – Parte 1

Abandonai a esperança, vós que o SuperAmiches ledes.

É fácil imaginar, ou adivinhar até, que daqui a 700 anos a biografia do Felipe Neto não figurará entre os grandes clássicos da humanidade, mesmo depois de seu sexto mandato como presidente da Gran Guiana.

Por outro lado temos a obra do italiano Dante Aliglieri.

É um poema imenso, dividido em três partes, Inferno, Purgatório e Paraíso, que levou 12 anos para ser completado. Dante só viveu um ano após o término do poema.

Como todo clássico que se preza, é mais referenciado e conhecido do que realmente lido.
Quando publicado pela primeira vez, era apenas “A Comédia”, num sentido diferente dessa palavra ao que usamos atualmente. Cômico era algo em que o divino se infiltrava no mundano. O Poema foi escrito numa linguagem popular (não em latim por exemplo) e tinha um final feliz. O epiteto “Divina” foi acrescentado cerca de 50 anos depois, por Giovanni Boccaccio, biografo de Dante e autor do Decamerão.

 

Encontrei minha velha cópia uns dias atrás e resolvi reler, lembrando até o contexto no qual adquiri o livro. E relendo com uma visão diferente da que tinha na época noto melhor as qualidades e sutilezas da obra.

E vai ser uma viagem turbulenta.

Aos trinta e tantos anos, Dante está perdido e sem rumo, quando em uma selva é atacado por feras apavorantes. Nessas ele é resgatado por um vulto que se apresenta como Virgílio, aquele lá, o poeta grego que escreveu a Eneida.

Ele manda a seguinte: Irá guiar Dante através dos reinos dos mortos, apesar deste ainda estar vivo. Cruzar o Inferno e o Purgatório, e depois outro guia vai conduzi-lo através do Paraíso.

Eles seguem então ao Inferno, que é como um cone invertido na terra, dividido em nove Circulos.

Para chegar ao Primeiro circulo, eles atravessam o rio Aqueronte pelos serviços de Caronte. Nesse circulo está o Limbo, onde ficam os pagãos virtuosos, como o próprio Virgilio, e os não batizados. É um lugar escuro, mas não ha dor ou torturas. Lá está o Castelo da Ciência Humana, com suas muralhas, Trivium e Quadrivium, cercados pelo rio Eloquência.

A coisa começa a pegar mesmo no Segundo Circulo. Eles tem que passar pelo horrendo rei Minos, o juiz do Inferno, para chegar ao Vale dos Ventos, onde os luxuriosos são jogados violentamente de um lado para outro por ventos fortíssimos.

No terceiro Circulo os gulosos chafurdam num imenso lago formado por lama e por seu proprio vomito enquanto são atacados por Cerberos, o cão de três cabeças, debaixo de uma chuva podre.

O Quarto circulo os gastadores e os avarentos se estranham, tendo que empurrar pesos imensos uns contra os outros sob a guarda de Plutus (não Plutão).

Os raivosos e escritores de textão de Facebook estão no Quinto Circulo, submersos em um lago ardente formado pela lama do Estige, que é feito de água e sangue. Os condenados ficam se atacando e estraçalhando direto, exceto aqueles que nunca exteriorizaram suas raivas. Esses ficam no fundo do lago.

Conduzidos a contragosto pelo Estige por Flégias, a dupla chega a Cidade Infernal, Dite. É onde está uma representação vista como mais clássica do Inferno, aquela coisa toda de fogo, demônios e tal. Guardando suas muralhas estão mil anjos caidos e as Fúrias, Stompa, Harriet Louca, Lashina, Megera, Aleto e Tisífone.

Os demonios resolvem dificultar para Dante e Virgilio e não abrem os portões. Mas um anjo aparece e abre as imensas portas de ferro com um toque de uma varinha.

Isso os leva ao Sexto Circulo, onde os diversos tipos de hereges são mantidos em tumulos abertos em chamas.

E depois disso os violentos estão no Sétimo Circulo. Há de se diferenciar os raivosos do Quinto Circulo dos sujeitos nesse aqui. No Quinto Circulo estão quem teve raiva ou fez algo levado pelo momento digamos assim. No Sétimo estão os realmente violentos, divididos em vales de acordo com o tipo de violencia que praticavam. Aqueles violentos contra os outros estão mergulhados no rio de sangue fervente, o Flegetonte. A profundidade depende do que fizeram. Assaltantes ficam até o peito. Tiranos até as sobrancelhas. E a todo momento são atacados por flechas disparadas por centauros caso tentem se levantar do sangue.

Perto dali está o Vale dos Suicidas, que praticaram violência contra si mesmos, e por isso foram tornados em árvores, cuja madeira sangrante é constantemente quebrada por harpias, causando grande agonia. Entre a floresta, os esbanjadores são perseguidos por cães ferozes. O terceiro tipo foram os que cometeram violência contra Deus, a arte ou a natureza, e esse pessoal fica num deserto escaldante sob uma literal chuva de fogo.

De carona no monstro Gerião, ambos passam pelo rio de fogo e chegam ao Malebolge, o Oitavo Circulo. Male -más, mau- e Bolge- fosso. São dez bolges e os diversos tipos de fraudulentos estão aqui. Os sedutores e alcoviteiros ficam levando chicotadas de demônios enquanto circulam pelo fosso. Os puxa-sacos ficam em outro, atolados em merda.

Os simoníacos, vendedores de artefatos sagrados, são enterrados de cabeça para baixo e tem chamas colocadas em suas pernas. Os adivinhos tem sua cabeça torcida (de modo que só podem olhar para trás, eles que alegavam poder ver o futuro). Os corruptos ficam atolados em piche fervente. Os hipócritas tem que ficar ficar andando de um lado ao outro vestindo roupas feitas de chumbo. A punição para os ladroes é serem perseguidos por serpentes venenosas. Se picados vão se tornando em serpentes e a unica forma de recuperar a forma humana é picando outros ladrões. Os maus conselheiros ficam na lava. Quem semeava a discórdia e o caos, são mutilados por demônios. Os falsos e mentirosos em geral são acometidos por inúmeras doenças.

O caminho até o Nono Circulo é bloqueado por gigantes, mas um deles ajuda os poetas a chegar ao fundo congelado do Inferno, o lago Cocytus. Os traidores ficam enterrados no gelo, divididos em 4 esferas, dependendo de que se baseava sua traição: familia, hospedes, pátria ou mestres e reis.

Ali também está o gigantesco Lucifre, que tem três cabeças, cada uma mastigando um traidor famoso, Brutus, Cassius e Judas. O lugar todo é mantido congelado pelo bater das seis asas gigantescas de Lucifer ao tentar sair do gelo.

O satã de Dante não é a poderosa criatura geralmente retratada em outras obras. É um ser miserável, mudo e impotente. Seu titulo de Rei do Inferno é apenas isso, um titulo. Ele é um condenado como todos os outros ali e sofre igualmente.

É escalando, ou melhor descendo, pelo corpo do Coisa Ruim que eles saem do Inferno e se preparam para ir ao Purgatório. Ao olhar para cima, Dante vê a constelação do Cruzeiro do Sul, o que dá uma indicativa de onde ele estaria.

 

Ficou um post imenso e se eu colocar as outras duas partes do Poema aqui, gigantesco. De forma que vou dividir em mais uma ou duas partes.